Escalada de episódios de preconceito e ultranacionalismo e discurso de ódio mancham futebol europeu

Escalada de episódios de preconceito e ultranacionalismo e discurso de ódio mancham futebol europeu
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Enquanto, no Brasil, a discussão sobre o preconceito e as discriminações no futebol ganhou espaço em seminário na CBF, com análises baseadas em pesquisa feita pelo Observatório da Discriminação Racial no Futebol, na Europa cresce o ultranacionalismo, o preconceito e a intolerância dos torcedores.
Temos que estar atentos ao que acontece em nossa casa, mas não podemos nos esquecer que a intolerância e o discurso de ódio são males que “contaminam”.

Por Rafael Oliveira*

Mesmo valendo vaga nas semifinais da Liga das Nações, o duelo de hoje entre Hungria e Itália, às 15h45 (de Brasília), não atrai atenções apenas dentro das quatro linhas. Com a Europa como foco, grupos que flertam com o fascismo e o nazismo têm protagonizado episódios que mancham o futebol. E a arquibancada da Puskás Aréna, em Budapeste, palco do jogo, é uma das principais intersecções entre o esporte e manifestações de extrema direita na atualidade.

Na Hungria, a Brigada Cárpata é a responsável por estas cenas. Espécie de organizada da seleção, é identificada pelo uso do preto, público dominantemente masculino e atitudes que já custaram à federação punições na Uefa, como multas e jogos com portões fechados.

Na última Eurocopa, no ano passado, as partidas na Puskás Aréna tiveram registros de cantos racistas e homofóbicos, além da exibição de bandeira com a inscrição “anti-LGBT”, em apoio à legislação proposta pelo partido do primeiro-ministro Viktor Orbán que proíbe disseminação de conteúdo que retrate homossexualidade ou transexualidade para menores de idade em escolas.

O alinhamento ideológico com o governo faz com que a Brigada aja sem ser punida. Antes do último jogo como mandante (empate com a Alemanha, em junho, pela Liga das Nações), o capitão da equipe Ádám Szalai precisou publicar um vídeo no Facebook no qual pedia aos apoiadores que evitassem qualquer expressão de racismo “bem como palavras ou frases que possam nos levar a ter partidas a portas fechadas no futuro“.

O problema está longe de ser exclusivo dos húngaros. Há uma semana, uma foto de Vini Jr. e Rodrygo dançando após um dos gols do Real Madrid viralizou nas redes sociais. O motivo: a suposta saudação nazista feita por torcedores do Atlético de Madrid ao fundo. O mesmo gesto que, em abril, fora feito na arquibancada em jogo dos colchoneros contra o Manchester City, pelas quartas da Liga dos Campeões. A Uefa puniu o Atleti com o fechamento de 5 mil lugares na volta.

– Marcha croata –

Antes e durante o jogo da semana passada, Vini Jr. foi chamado de macaco. O Atlético repudiou o racismo e prometeu expulsar os envolvidos que forem sócios. Como também fez o Eintracht Frankfurt, de forma veemente, após um torcedor ser filmado fazendo a saudação nazista no duelo com o Olympique de Marselha, pela Champions, no último dia 13.

Cerca de 24 horas antes, centenas de torcedores do Dinamo de Zagreb, da Croácia, promoveram uma marcha nazista em Milão, antes do jogo contra o Milan. O clube não se pronunciou.

O caso croata é ainda mais delicado. Trata-se de uma sociedade com forte nacionalismo que exalta os tempos da Ustasha, partido de extrema-direita que tomou o poder durante a Segunda Guerra Mundial a partir de aliança com a Alemanha Nazista. Este foi o único período de independência da Croácia antes do atual, iniciado em 1991.

Em 2014, o zagueiro Josep Simunic foi punido por 10 jogos pela Fifa e perdeu a Copa no Brasil após fazer uma saudação nazista em jogo das Eliminatórias. Dois anos depois, uma enorme suástica apareceu marcada num campo do país que recebeu partida contra a Itália. Ela teria sido feita por torcedores radicais.

Torcedores já têm um espírito de lealdade a algo. No caso, ao time e, principalmente, à própria torcida. Então é um público mais fácil de ser fidelizado, cooptado. Ali você tem tudo o que espera de um militante mais arraigado. O que falta é um direcionamento doutrinário“, analisa o professor Alexandre de Almeida, doutor em História Social pela Universidade de São Paulo (USP) e pesquisador do Observatório da Extrema Direita.

Estive na Itália pesquisando jovens fascistas e perguntei a eles como foi o primeiro contato. Um deles falou que foi no estádio de futebol, num jogo da Lazio. Lá, conheceu um senhor que acabou passando um material doutrinário a ele“, acrescenta o professor.

O caldeirão que explica o crescimento de grupos de extrema direita na Europa passa pela força destas ideologias no continente, que serviu de berço para elas, até a crise econômica atual e o processo de migração que leva milhares de imigrantes para seus países. O futebol apenas reflete este sintoma.

Como vivem momento de desemprego alto e de crise econômica, estes jovens veem nos acolhimentos dos grupos de torcida uma forma de se encontrar e conseguir extravasar muitos sentimentos“, diz o jornalista Carlos Massari, do podcast Copa além da Copa, que fala sobre ligações do esporte com política, cultura, história e sociedade. “Não é só sobre torcer. É um grupo que serve como senso de identificação“, finaliza.

*Publicada originalmente no jornal O Globo, com adaptações para o VSP
Foto: Tembela Bohle/Pexels

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Redação

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