Como integrar acolhimento e diversidade na Educação Infantil?

Como integrar acolhimento e diversidade na Educação Infantil?
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Combater preconceitos e valorizar crianças e famílias de diferentes etnias é uma atitude que começa agora e deve seguir por todo o ano

Por Paula Sestari

Queridos professores e professoras! Estamos retornando para nossas atividades escolares depois do merecido descanso, e nesse momento, pensar sobre o acolhimento inicial dos nossos pequenos é sempre fundamental.

Vale lembrar que o ato de acolher perpassa todo o convívio, do início ao final do período, e requer um olhar atento para todas as microtransições que acontecem principalmente nas relações e marcos de desenvolvimento dos bebês e crianças pequenas. Especificamente no começo do ano, temos uma das mais importantes transições, porque a fase em casa e das férias se encerra, e tem-se os primeiros contatos com a comunidade extra-familiar.

Para além desses detalhes, gostaria de ampliar minha fala pensando em um acolhimento pautado pela diversidade de crianças e famílias de diferentes etnias e nacionalidades, para consolidar uma Educação Antirracista já na Educação Infantil. É urgente que os pequenos cresçam com boas referências e oportunidades para a formação de identidade, e que todos se reconheçam nas práticas que participam ao longo do convívio escolar.

Combatendo preconceitos na Educação Infantil

Antes de mais nada, gostaria de trazer alguns pontos de atenção nessa busca por uma Educação para as Relações Étnico-raciais e por um enfrentamento aos casos de xenofobia e outras formas de preconceito. Primeiramente, essa iniciativa deve ser uma decisão contundente de toda a comunidade escolar, e precisa estar bem explícita no Projeto Político-Pedagógico (PPP), nas normas e nos regimentos internos.

Com isso, em todas as oportunidades, a escola deve promover uma reafirmação de seus valores sociais de respeito. Isso inclui desde oportunizar informações adequadas para todos (divulgando materiais como o E-book de Educação Antirracista e o Glossário, ambos aqui da Nova Escola), até promover práticas pedagógicas focadas na aprendizagem por meio da convivência com a diversidade. Desse modo, entendemos que acolher também significa proporcionar, para toda a comunidade, uma troca de conhecimentos sobre questões étnico-raciais.

Outro item indispensável é que essas iniciativas devem ocorrer por todo o ano, e não apenas em campanhas específicas ou pontuais, como no caso do usualmente conhecido como “Dia do Índio”. Conforme o autor e ativista indígena Daniel Munduruku, essa virou uma “data sobre seres fictícios” – e exige de nós, educadores, um olhar contemporâneo e sem estereótipos sobre história e culturas dos povos indígenas. E esse é só um exemplo.

Dicas para acolher e falar de diversidade com crianças

– Dedique-se a conhecer quem são as crianças que estão prestes a iniciar na sua instituição. Faça uma entrevista com as famílias, e reconheça suas origens, rede de apoio, crenças e valores. Essa escuta individualizada pode ocorrer no momento de apresentar o espaço escolar.

– Prepare a ambientação da sala, trazendo a diversidade nas expressões e representações artísticas. A estética do ambiente comunica muito do que a escola tem como princípio e valores, e uma decoração com imagens estereotipadas reforça padrões que perpetuam valores preconceituosos. Sugiro como referência as obras da artista Djanira Motta (1914-1979).

– Ofereça brinquedos variados para as brincadeiras das crianças, como bonecas que representam diferentes etnias com diversidade de tons de pele e características físicas.

– Oportunize o contato com livros e outros portadores textuais que promovam representatividade étnico-racial nas histórias. Menciono novamente o escritor Daniel Munduruku, que possui várias obras de literatura infanto-juvenil.

– Se possível, a equipe escolar pode buscar aprender algumas expressões da língua, como termos do cotidiano, alimentos, saudações e até um cartaz de boas-vindas em outros idiomas, no caso de populações que se deslocam de seu país. Afinal, a língua se torna uma barreira e a compreensão de termos básicos da outra cultura apoia na criação de vínculos.

– Acolha as crianças com cantigas e composições do patrimônio cultural de sua origem (seja outra cidade, estado ou país), trazendo sotaques, expressões e valorizando os diversos movimentos, gestos, ritmos e da língua;

– Observe a composição do cardápio da escola e pense em ações que apoiem na descoberta dos sabores. Por vezes,  a dificuldade de aceitação dos alimentos é apenas uma falta de compreensão sobre a forma de preparo do prato – e ao entendê-la, as crianças podem se sentir motivadas a experimentar comidas diferentes de seu ambiente cultural ou social. Inclusive, é possível usar costumes e referências alimentares da turma para preparar momentos de troca desses conhecimentos entre os colegas.

Para finalizar, o mais importante: como os bebês e crianças pequenas se orientam pelo adulto de referência, principalmente nas situações desconhecidas para elas, é essencial que o professor ocupe essa função desde o primeiro acolhimento, sendo aquela pessoa que revela interesse, que busca integrar, e que se mostra curiosa e animada por vivenciar a experiência de criação dos primeiros vínculos de maneira respeitosa – como deve ser durante todo o ano de atividades.

Um abraço e até breve

* Paula Sestari é professora da Educação Infantil da rede municipal de ensino de Joinville (SC), com dez anos de experiência nessa etapa, e mestre em Ensino de Ciências, Matemática e Tecnologias. Em 2014, recebeu o Prêmio Educador Nota 10, da Fundação Victor Civita, e foi eleita Educadora do Ano com um projeto com crianças pequenas na área de Educação Ambiental.

Publicado originalmente no site Nova Escola
Foto: Rodnae Productions/Pexels

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