Com recente defesa do doutorado, mãe de santo, preta com 81 anos quer contribuir para um mundo melhor

Com recente defesa do doutorado, mãe de santo, preta com 81 anos quer contribuir para um mundo melhor
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Hoje, mais do que doutora ou mãe de santo, Iyagunã Dalzira é personalidade do movimento negro

Por Cleber Siqueira*

Professoras negras: gênero, raça, religiões de matriz africana e neopentecostais na educação pública“, esse foi o título da tese de doutorado defendida recentemente pela mineira Dalzira Maria Aparecida, a Iyagunã Dalzira, na Universidade Federal do Paraná.

Mas o que essa informação tem de especial? Afinal, trata-se de algo corriqueiro, não? Não! No caso dessa mineira… não.

Preta, mãe de santo e com 81 anos. Fatores que, individualmente, já criariam preconceito e discriminação. Mas Iyagunã, a Yá, como é conhecida no Candomblé, decidiu que sua trajetória seria traçada pela resistência.

Força que ela carregou ao longo da vida. Seus estudos regulares foram iniciados somente aos 47 anos.

Dezesseis anos depois, aos 63, inicia o curso de Relações Internacionais. Não demora e, aos 72, defende mestrado com tese sobre os ‘saberes do Candomblé na contemporaneidade‘, na Universidade Tecnológica Federal do Paraná.

Agora, com o doutorado ela espera contribuir para a reconstrução de um mundo melhor, com menos ódio, menos violência e mais amor. Em troca, ela não pede muito… apenas compreensão. “Sempre seremos negros, mas que não sejamos odiados por sermos negros“, declarou a doutora Dalzira em entrevista ao portal Carta Capital.

– Racismo e Movimento Negro –

Na década de 1950, Dalzira muda-se para o Paraná com a família, onde o pai, trabalhador rural, sonhava progredir plantando café. Ela conta que durante toda sua infância nunca sofreu racismo. Aliás, “não tinha noção do que era racismo“, diz. Algo que muda na adolescência, quando junto a uma amiga branca procuram um convento para saber se poderiam se tornar freiras. A amiga foi aprovada, ela não. Mais tarde a religiosa explica o motivo “você é bem escurinha, né?“.

Aos 27 anos, época da ditadura militar, muda-se com a família para Curitiba e logo é convidada a participar de um movimento ligado à igreja católica em defesa da população negra. Torna-se militante do núcleo que resultaria no Grupo União e Consciência Negra.

É nesse período que Yá sente que o movimento negro pode dar a ela recursos para nomear e combater a discriminação. “Tomei consciência da importância desta luta em defesa dos negros e na conquista por seus direitos. Com isso, começamos a estabelecer prioridades e traçar ações.” E é nesse momento, que também surge o interesse pelo candomblé.

Iyagunã Dalzira, que nunca se casou, mas adotou sete filhos, conta que um dos grandes desafios da vida foi educá-los. “Não pela educação em si, mas pelos educadores que não conseguiam trabalhar com crianças pobres, pretas, marginalizadas. Não compreendiam que elas eram rebeldes justamente por serem marginalizadas“, finaliza.

*Com informações do portal Carta Capital
Foto: Dalzira Maria Aparecida, 81 anos, preta, mãe de santo e doutora/Por Kraw Penas-SEEC (PR)

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Cleber Siqueira

Cleber Siqueira

Jornalista, é autor do livro "Fernando, o menino sem dedos". Fundador e editor do Portal Viver Sem Preconceitos, tem pós-graduação em Sociopsicologia. Sua monografia, intitulada "Homossexualidade, o amor às chamas: um breve ensaio sobre o preconceito", faz uma análise entre a literatura específica e a vida real da população homossexual no início dos anos 2000.

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