A internet, o preconceito e as desculpas de Xuxa

Desculpas servem pra que, afinal?

Dia 26 de março, Xuxa causou revolta na internet com frase sobre utilização de presidiários como cobaias.
No dia seguinte se desculpou, mas sua retratação não foi muito bem aceita, e o assunto esquentou de novo.

O que a Xuxa disse…
Em live realizada pela Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj), no dia 26, sobre a defesa dos direitos dos animais, Xuxa sugeriu que presos fossem usados como cobaias de testes para vacinas e remédios, pois assim “serviriam para alguma coisa antes de morrer”.

A frase infeliz e irresponsável viralizou e Xuxa foi às redes sociais se desculpar.

As desculpas…
“Estou aqui pedindo desculpas para vocês, não usei as palavras certas. Pensei muitas coisas e quis falar sobre muitos assuntos, sobre maus tratos aos animais, e fiz a mesma coisa, também julguei e maltratei. A todos vocês que me julgaram, julgaram certo, eu errei e estou aqui pedindo desculpas a vocês“, disse.

O julgamento…
Mesmo usando as palavras “errei” e “peço desculpas”, muitos internautas deram como verdade que Xuxa estava sendo… falsa.

A opinião do portal…
A Xuxa errou e foi acertadamente criticada nas redes sociais. Críticas que resultaram naquilo que todos esperavam: uma retratação.
Mas se mesmo se retratando, ela continua sendo punida, para que serve o pedido de desculpas?

A Xuxa errou, percebeu o erro e se desculpou, portanto agora, entendo que as redes sociais acompanhem de perto suas atitudes, mas vejo com tristeza que a punição continue.

Sobre a retratação de Xuxa, Luis Carlos Valois, juiz de direito do Tribunal de Justiça do Amazonas tuitou: “direitos humanos são normalmente direitos de minorias e quem não faz parte da minoria precisa estar sempre sendo lembrado e aprendendo“.

Para completar, Valois respondeu a um dos seguidores, que havia indagado sobre a forma como foi feito o pedido de desculpas.

“Ela disse que estava errada e que a julgaram de forma correta a acusando, é um bom começo… ela não precisa repetir as conclusões do julgamento, a mudança do discurso é um grande passo para mudar conceito, mas conceitos não se mudam de repente…“

Nada muda da noite para o dia e a cultura brasileira é prova disso. O Brasil não é um país de pessoas preconceituosas, mas infelizmente é um país em que, mesmo em sua história atual, ainda encontramos fortes traços de uma cultura carregada de preconceitos.

Para se ter ideia, com o preconceito racial, por exemplo, foram mais de 380 anos de cultura escravocrata para apenas pouco mais de 130 anos de abolição, com a ressalva da, ainda, existência de remanescentes de quilombos. É óbvio que o preconceito continua enraizado em nossa cultura, é inegável que a luta contra o racismo provavelmente perdure por décadas e décadas.
E quem estiver na linha de frente terá de usar a sabedoria para ter paciência. Afinal, é com sabedoria e paciência que se chega à transformação.

Então, se você também quer as transformações que levem ao fim de qualquer preconceito, tenha paciência e seja sábio ao ponto de enxergar, entre virtudes e defeitos, a boa vontade de quem quer mudar.

Eu não sei se a Xuxa quer mudar, porém o que eu tenho em mãos são apenas suas desculpas, e com elas eu posso criar um ambiente de transformação ou um mundo de discórdia. Eu optei pela transformação.

Redação: Viver sem preconceitos
Foto Xuxa: reprodução Instagram