Preto compra de preto?

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Movimento Black Money e o fortalecimento da economia da comunidade, criando empregos e incentivando o empreendedorismo

Por Fabiana Conceição*

Outro dia, bisbilhotando uma rede social, vi um post de uma mulher preta que sigo. Ela dá dicas de moda e achados em lojas de departamento. Neste dia, ela estava dando dicas de promoção de uma loja de departamento conhecida por seus casos de racismo, inclusive comprovados pela polícia civil. Nos estabelecimentos, havia (ou ainda há) um código de alerta interno para avisar quando uma pessoa preta entrasse na loja.

Fiquei bastante incomodada com a publicação e por ter havido mais de um caso de racismo há poucos dias na mesma loja. Então, enviei uma mensagem privada para ela, perguntando o que ela achava dos casos de racismo que a loja vinha sendo acusada e por que ela, uma mulher negra, frequentava este espaço. Perguntei com a intenção de entender mesmo, não de acusar.

Como pessoas pretas, somos múltiplas e não devemos nem precisamos ter as mesmas opiniões e ideias.

Ela me respondeu que sabia sim dos casos, mas que ela não iria se privar de frequentar esses espaços e achava importante estar em locais como este para que as pessoas se acostumassem a nos ver.

A conversa foi fluindo porque realmente era um papo sem acusação, apenas com o objetivo de entender um comportamento que, para mim, soava bastante contraditório.

Então, eu trouxe para ela o conceito de um movimento incrível, o Black Money. A ideia é comprar produtos e serviços em empreendimentos que tenham pessoas negras como proprietárias, com o objetivo de fortalecer a economia da comunidade negra e, de quebra, reduzir a desigualdade econômica.

É tipo um superpoder que as pessoas pretas têm e não tomam consciência: quando compramos de pessoas pretas, estamos ajudando a fortalecer a economia da comunidade, criando empregos e incentivando o empreendedorismo. E, claro, uma forma de resistência, sabe?

Maggie Anderson, autora do livro “Nosso Ano Negro: A Busca de Uma Família para Comprar Preto na América Racialmente Dividida“, traz neste livro um estudo que mostra por quanto tempo o dinheiro permanece dentro das próprias comunidades.

O resultado é que um dólar permanece circulando na comunidade asiática por 28 dias, na comunidade judaica por 19 dias, na comunidade latina por sete dias e na comunidade negra, pasme! Na comunidade negra, um dólar permanece por 6 horas!

Vou trazer um exemplo para elucidar!

O judeu compra o pão na mão de outro judeu, que compra a farinha e demais ingredientes na mão de outro judeu que compra de um produtor também judeu. Uma pessoa preta compra o pão na padaria de uma pessoa branca e fim.

Por isso, o movimento Black Money incentiva a compra em estabelecimentos de pessoas pretas, pois nos possibilita empoderamento econômico.

A população negra brasileira tem um potencial econômico incrível e um papel importante no desenvolvimento do nosso país.

Segundo o Instituto Locomotiva, a população negra movimenta cerca de R$ 1,7 trilhão por ano, o que representa mais da metade do poder de compra da população brasileira.

Agora imagina se, ao menos, metade deste montante permanecesse dentro da comunidade? Se priorizássemos produtos e serviços de empreendedores negros?

E depois dessa palestra toda, a resposta que ouvi da moça das dicas foi a seguinte:

Obrigada pela sua contribuição e provocação de consciência e reflexão, Fabi! Mas se eu for nutrir pensamentos como este, vou ficar limitadíssima a consumir em várias lojas, marcas, frequentar ambientes e, consequentemente, fortalecer ainda mais o preconceito de que não são para negros consumirem. Respeito e agradeço pela sua troca, mas também é a minha forma de pensar, e, sim, continuarei consumindo.

Aqui, eu encerrei o papo porque realmente não fazia sentido continuá-lo…

Mas aqui, neste espaço, faz sentido!

E, é óbvio que, por não termos AINDA empreendedores negros em toda a cadeia que possam nos oferecer produtos e serviços, o objetivo nesse momento é PRIORIZAÇÃO! É priorizar o consumo de pessoas pretas para sairmos desse ciclo de miséria e racismo.

Como disse, as pessoas negras não precisam concordar com tudo sempre, mas acho importante sermos letrados, com consciência de raça e classe e, consequentemente, praticarmos o consumo consciente.

Entender o impacto que tem o consumo consciente, priorizando negócios pretos, sem dúvidas, promove melhoria da qualidade de vida e prosperidade para as pessoas negras, a base da pirâmide de nosso país.

*O texto produzido pelo autor não reflete, necessariamente, a opinião do Portal VSP

Fabiana Conceição
Colunista VSP

Baiana, mulher negra, mãe de Janaína e Dandara, Fabiana é pedagoga com especialização em psicologia organizacional e diversidade e inclusão e tem pós em Gestão de Projetos. Pesquisadora e palestrante sobre o tema Racismo e Preconceito, é educadora antirracista. É ainda especialista em desenvolvimento de talentos e diversidade, equidade e inclusão na Talento Incluir.

Foto: Nina Hill/Pexels

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