Relatório da ONU apresenta alto índice de preconceito contra mulher

Relatório da ONU apresenta alto índice de preconceito contra mulher
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Pesquisa realizada pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) mostra que no Brasil 84,5% das pessoas têm preconceito contra mulheres; no mundo cerca de 87% das mulheres e 90% dos homens apresentam ao menos um preconceito de gênero

Por Cleber Siqueira

Na mesma semana em que o Conselho de Ética da Câmara dos Deputados acatou representação do partido PL contra seis deputadas federais que protestaram contra a aprovação de um requerimento de urgência do projeto de lei do marco temporal de terras indígenas, em mais uma manifestação que, a deputada Sâmia Bomfim (PSOL/SP), classificou como um ato machista com o objetivo de intimidar; saiu o resultado de pesquisa do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) que apresenta o sexismo – seja de homens ou entre as próprias mulheres – como “potencialmente prejudicial”, chegando até mesmo a legitimar atos de violência física e psicológica.

O estudo, realizado em 80 países com uma abrangência que chega a 85% da população mundial, revela que aproximadamente 90% das pessoas, independente de gênero, têm algum tipo de preconceito contra as mulheres.

O relatório mostra também que 84,5% dos brasileiros têm pelo menos um tipo de preconceito contra o gênero feminino. O restante, apenas 15,5%, são aqueles que afirmam não ter preconceito contra mulheres. Números que mostram um avanço de algo em torno de 5% sobre 2012, ano em que o índice foi de 10,2%. O resultado atual coloca o Brasil com números semelhantes a Guatemala, Bielorússia, Romênia, Eslováquia, Trinidad, Tobago, México e Chile.

Quatro dimensões sobre preconceito de gênero em que meninas e mulheres enfrentam desvantagens e discriminações foram analisadas: integridade física; educacional; política; e econômica.

A educação é a que apresenta o menor índice de preconceito, com apenas 9,59% dos entrevistados afirmando que a universidade é mais importante para homem do que para a mulher.

O quesito integridade física é o que conta com os piores indicadores do país. Os marcadores levam em consideração a violência íntima e o direito à decisão de querer ter filhos ou não, com 75,56% dos homens e 75,79% das mulheres dizendo ter esse preconceito.

Na economia, segundo a pesquisa, 31% dos brasileiros apontam que os homens têm mais direito ao trabalho do que as mulheres ou que eles fazem melhores negócios do que elas.

Os números referentes à política nos dão uma boa mostra daquilo que o país vem passando durante os últimos dias, 39,91% das pessoas dizem ter preconceito de gênero e afirmam que mulheres não são tão boas políticas como os homens no exercício do trabalho. E, pior, também acreditam que as mulheres possuem menos direitos do que os homens.

–  A pesquisa no mundo –

O estudo também apresentou um cenário mundial. Nele, cerca de 87% das mulheres e 90% dos homens apresentam ao menos um preconceito de gênero nas dimensões analisadas – aquelas que, para os pesquisadores, são as áreas consideradas fundamentais para a defesa dos direitos das mulheres e para a garantia da igualdade social e econômica entre os gêneros.

Ainda no cenário mundial, o estudo mostra que quase metade da população acredita que líderes políticos do gênero masculino são melhores do que as mulheres. Além disso, mais de duas em cada cinco pessoas concordam que os homens são melhores executivos de negócios.

A partir de 1995, a porcentagem de mulheres como chefes de Estado ou de governo tem permanecido em torno de 10% em média. No mercado de trabalho as mulheres ocupam menos de um terço dos cargos de chefia.

O relatório do PNUD analisa que esses preconceitos geram obstáculos para as mulheres e têm reduzido seus direitos em muitas partes do mundo. Além disso, a força que movimentos contra a igualdade de gênero vêm ganhando, tem proporcionado diversas violações dos direitos humanos: hoje, mais de um quarto das pessoas também acredita que é justificável um homem bater em sua esposa.

O relatório ressalta que os governos têm papel crucial na mudança das normas sociais de gênero. Medidas como a adoção de políticas de licença parental e reformas do mercado de trabalho são citadas como formas de impulsionar mudanças nas crenças sobre as mulheres na força de trabalho – já que em países com os níveis mais altos de preconceito de gênero, estima-se que as mulheres gastem seis vezes mais tempo do que os homens em trabalhos de cuidado não remunerados.

Segundo o estudo, o combate ao discurso de ódio online e à desinformação de gênero também pode ajudar a mudar as normas de gênero e aumentar a aceitação e a igualdade. Recomenda-se abordar diretamente as normas sociais por meio da educação para mudar as opiniões reconhecendo os direitos das mulheres em todas as esferas da vida e ampliando a representação delas na tomada de decisões e nos processos políticos.

– Índice de normas sociais de gênero –

O PNUD utiliza a base de dados do World Values Survey (WVS) para calcular os índices de normas sociais de gênero, feito para captar crenças sobre igualdade de gênero em capacidades e direitos. No Brasil, 1.762 pessoas participaram do estudo. Pesquisas nacionais feitas por Datafolha e Ipec, por exemplo, utilizam a mesma média de amostragem.

O objetivo do World Values Survey, que é uma pesquisa realizada desde 1981, por estudiosos de todo o mundo, é observar como os países analisam diferentes temas, como qualidade de vida; tolerância; trabalho; religião; meio ambiente; ciência; tecnologia; política; economia e dados demográficos, entre outros assuntos.

Foto: Anete Lusina/Pexels

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Cleber Siqueira

Cleber Siqueira

Jornalista, é autor do livro "Fernando, o menino sem dedos". Fundador e editor do Portal Viver Sem Preconceitos, tem pós-graduação em Sociopsicologia. Sua monografia, intitulada "Homossexualidade, o amor às chamas: um breve ensaio sobre o preconceito", faz uma análise entre a literatura específica e a vida real da população homossexual no início dos anos 2000.

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