Preconceito contra a mulher e a orientação sexual andam juntos, diz especialista
Na semana do Dia do Orgulho Lésbico, a fundadora do Gestão Kairós, Liliane Rocha, levantou o debate sobre o duplo estigma que ocorre com mulheres lésbicas no dia a dia
Por Redação
“Ser homossexual e ser mulher na sociedade brasileira é um duplo marcador que carrega uma dupla opressão”, avaliou a fundadora e gestora do Gestão Kairós, Liliane Rocha.
Consultora de diversidade, ela é “mulher”, “preta” e “lésbica”, três possíveis marcadores de discriminação, três fatores que podem levar alguém a sofrer preconceito. Aliás, isso tem nome, interseccionalidade.
Então veja, um por um, você já sabe o que é racismo, homofobia, capacitismo, misoginia e muitos outros tipos de preconceito. Agora, imagine tudo isso junto, ou pelo menos, parte disso. Por exemplo: ser discriminado pela sua raça e gênero; pelo gênero e deficiência, ou ainda pelo gênero, pela raça e pela crença ou qualquer outra combinação que você quiser.
No Dia do Orgulho Lésbico, veja o que pensa Liliane Rocha.
Em entrevista à CNN Rádio, ela afirmou que datas comemorativas como hoje servem para trazer à tona temas invisibilizados no cotidiano. “É poder falar de segurança, acesso ao mercado de trabalho, visibilidade na indústria de entretenimento, e equidade no geral”, apontou.
Segundo a especialista, grande parte da estigmatização direcionada às mulheres lésbicas é fruto de estereótipos. “Até pouco tempo atrás, a busca da palavra ‘lésbica’ no Google trazia conteúdo, em grande número, associado à pornografia”, exemplificou.
“Hoje, por mais que novos conteúdos informativos sejam produzidos, essa conotação da hiperssexualização continua existindo”, acrescenta.
Para a consultora, além do estereótipo de gênero e da homossexualidade, ainda existe o de raça, classe, de deficiência e outros. “Quanto mais marcadores a gente colocar, maior vai ser a invisibilidade e o preconceito de forma geral.”
Outro ponto é a relação da feminilidade e/ou masculinidade com as mulheres homossexuais, “como se a lésbica necessariamente devesse ter uma expressão mais masculina. Isso não é verdade”, conta Liliane. E continua, “as pessoas normalmente têm dificuldade em entender o direito da mulher homossexual de se expressar das mais variadas formas.”
Sobre o alcance da discussão das pautas da comunidade LGBTQIAP+, Liliane Rocha acredita que houve avanços. “Até os anos 1960, falar até de sexualidade feminina era um tabu. Hoje nós falamos sobre mulheres lésbicas, trans, não-binárias”, relembrou.
No entanto, a especialista indicou que os dados de assassinatos de mulheres homossexuais ainda são alarmantes. “É preciso encontrar equilíbrio entre a celebração dos avanços e a consciência para conseguirmos avançar ainda mais onde a gente precisa.”
Sobre formas de procurar apoio, Liliane Rocha aposta no Disque 180, a Central de Atendimento à Mulher, ao conhecimento da Lei da Maria da Penha e, caso necessário, à procura de assistência social municipal.
Matéria publicada originalmente na CNN Brasil e editada por Redação VSP
Foto: Liliane Rocha/Reprodução Instagram
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