Seu orgulho LGBTQIA+ inclui pessoas gordas?

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Com o fim do mês em que se celebra a população LGBTQIA+, um texto para refletir: você ama também quem tem um corpo fora dos padrões?

Por Jéssica Balbino

É sabido que no mês de junho celebra-se o “Mês do Orgulho LGBTQIA+”. Desde 28 de junho de 1969, quando os frequentadores do Stonewall Inn., um bar localizado no vilarejo de Greenwich em Nova York e que recebia o público queer, resolveram dar um basta nos anos de violência e perseguição policial, causando o que ficou conhecida como a ‘Revolta de Stonewall’ e deu origem ao movimento que conhecemos atualmente.

Para e pensa: você ostenta sua bandeira LGBTIQA e cobra direitos e exige respeito por amar. Mas, você ama corpos diferentes do seu e/ou diferentes do padrão? Quais são as corporeidades presentes no seu círculo?

É importante que falemos sobre o apagamento da pluralidade corporal dentro da diversidade, seja discursivamente, seja no ocupar espaços. Muito falamos sobre interseccionalidade, mas, quanto dessa interseccionalidade inclui corpos gordos?

O quão aberto você está, dentro da sua militância, para ouvir e falar sobre gordofobia?

E aqui, chamo a atenção para este marcador que oprime e marginaliza corpos como o meu e, estar em ambientes LGBQTIA não alivia em nada. Ainda que estejamos entre corpos estigmatizados de outras formas, estamos lidando com pessoas magras e, necessariamente, nossos corpos gordos são preteridos de olhares, escuta e, sobretudo, afetos dentro do grande guarda-chuva da sigla.

E veja, não estou dizendo que são opressões idênticas, mas falo de uma invisibilidade que é real, latente e que não existe, sequer, espaço para discutí-la. Caímos aqui na velha desculpa dada por quem oprime e/ou é gordofóbico: mas ser uma pessoa gorda não é uma condição permanente, a pessoa pode mudar, se quiser. E, arraigado a este discurso mora uma opressão silenciosa, validada socialmente e está atrelada, diretamente a “questão de gosto”, que é tão violenta quanto qualquer outra manifestação de anulação de alteridade.

Sabemos que a pessoas LGBTQIA lutam por seus direitos e ainda têm um longo caminho, mas, é preciso marcar que, quando falamos de corpos magros, estes acessam privilégios que os corpos gordos não acessam, sejam eles visíveis, como o espaço físico mesmo, sejam eles subjetivos, como o desprezo, o nojo, os olhares e a ausência de afeto.

Você, pessoa queer, sabe que há 32 anos a Organização Mundial da Saúde (OMS) tirou a homossexualidade da lista do CID, no entanto, compreende que pessoas gordas enfrentam hoje a patologização que você já enfrentou.

Quantas pessoas gordas dentro da comunidade LGBTQIA fazem parte do seu convívio? Seu orgulho é extensivo a corpos que não são os corpos padrões? Quantas pessoas gordas vão aos seus aniversários? Com quantas você já se relacionou? Quais você verdadeiramente ama? Ou, quais piadas envolvendo peso e pessoas gordas você já fez hoje no seu grupo de amigues LGBQTIA?

É urgente pensarmos que, de um lado, combatemos a ‘cura gay’ e reafirmamos sua inexistência, por outro, atribuímos a um corpo gordo algo como uma doença e esperamos que o dono daquele corpo queira se curar e batalhe pra isso, emagrecendo e cabendo. É preciso que se combata também a ‘cura gorda’.

Ainda sim, corpos gordos são usados como alvo de deboche por uma fatia da comunidade LGBTQIA , a mesma que ocupa faixas e faixas de quilômetros de uma das maiores paradas do mundo, que é branca, tem poder de compra e, na maioria das vezes, fetichiza, ridiculariza a expõe as pessoas gordas.

E, veja bem! Não quero me concentrar aqui tão somente no sofrimento e falar dele ou de como pessoas gordas são maltratadas, mas acho importante dizer sobre e mapear como isso pode ser violento, inclusive em espaços que se propõe a serem acolhedores, mas acabam por serem higienistas.

Penso que não deveria, afinal, são anos discutindo a mesma coisa, mas aqui vai. Caso você, LGBQTIA não saiba: corpos gordos não são doentes, não são engraçados e não merecem ser palco de deboche e ridicularização.

Dito isso, não quero pedir que nos respeitem dentro da sigla LGBTQIA . Respeito não é algo que deva ser pedido. Mas gostaria de lembrar que os mesmos valores que são buscados por esses corpos que têm as vivências e existências oprimidas são buscados por pessoas gordas que pertencem a este guarda-chuva, afinal, é importante que tenhamos orgulho de ser quem somos, mas também de sermos pessoas gordas e LGBTQIA . Fico ansiosa pelo dia que seremos apenas amor, tanto pra pessoas gordas, tanto pra pessoas LGBTQIA.

Publicado originalmente no jornal Estado de Minas
Foto: Jessica Balbino/Arquivo pessoal

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