Visibilidade e respeito

A importância do cordão de girassol para Pessoas com Deficiência

Por Ciça Cordeiro*

A terminologia mais atual, ratificada por órgãos oficiais do governo e, inclusive, determinada em convenção da ONU em 2006 é “pessoa com deficiência”. Todas as outras terminologias usadas até então não são mais aceitas. Expressões como “portador de deficiência”, “deficiente”, “especial” ou “pessoas com necessidades especiais (PNE)” – nenhuma delas faz sentido.

Portar significa carregar, e deficiência é uma condição permanente. Podemos portar objetos, chaves da casa por exemplo, que inclusive podemos perder. Já a deficiência não temos como esquecer e nem perder, é uma condição existente e não porte.

O termo “deficiente” personifica a deficiência, trata a deficiência como sujeito, portanto, contraria a indicação da terminologia atual. Especial é outro termo ainda muito usado, principalmente para pessoas com deficiência intelectual. Não somos especiais por termos uma deficiência, ela não torna ninguém especial, aliás não há nada de especial em não enxergar, não ouvir, não andar etc. Pessoas especiais são especiais por suas qualidades e não por suas limitações.

Pessoas com necessidades especiais (PNE) – engloba um público maior, não são só pessoas com deficiência, mas também 60+, gestantes e lactantes, adultos com crianças de colo, pessoas com mobilidade reduzida, mesmo que temporariamente e pessoas obesas.

Outro grande equívoco é quando dizemos que a pessoa que não tem deficiência é normal. A normalidade é contextualizada dentro de uma vida que é sua e não do outro. O que é normal para uma pessoa não é normal para a outra. Então, cuidado para não dizer que pessoas com deficiência são anormais. Dizemos pessoas com deficiência e pessoas sem deficiência.

Globalmente, uma em cada sete pessoas vive com uma deficiência, o que equivale a aproximadamente 1,3 bilhão de pessoas.

Pessoas com deficiência enfrentam várias barreiras diariamente, inclusive barreiras atitudinais e preconceitos como o capacitismo. Pessoas com deficiência ocultas ou invisíveis e doenças crônicas da mesma forma. Para que essas barreiras sejam amenizadas ou eliminadas foi criado o Cordão de Girassol, com o propósito de proporcionar um ambiente mais compreensivo e acessível, ele vem ganhando popularidade em diversos países incluindo o Brasil.

Sua origem se deu pela primeira vez em 2016 no Aeroporto de Gatwick, em Londres, Reino Unido. Desenvolvido pela Hidden Disabilities Sunflower, o objetivo era criar uma maneira discreta para que pessoas com deficiências ocultas pudessem sinalizar sua necessidade de assistência ou compreensão adicional em locais públicos. O girassol foi escolhido por ser uma flor associada à felicidade, positividade e força, características que se alinham com a visão de um mundo mais inclusivo e empático.

• O que são deficiências ocultas?

Deficiências ocultas ou invisíveis são condições que não são imediatamente visíveis para os outros. Bem diferente de pessoas com deficiência que são facilmente notadas, como àquelas que usam cadeira de rodas, tem Síndrome de Down, ou são cegas. As deficiências ocultas não se limitam ao TEA, dislexia, TDAH, deficiência auditiva, transtornos de ansiedade, doença de Crohn e outras condições de saúde mental e física.

Pessoas com essas condições frequentemente enfrentam desafios únicos, pois suas necessidades não são obvias para aqueles ao seu redor. Sem uma indicação visual, pode ser difícil para outras pessoas reconhecer ou entender as barreiras diárias enfrentadas por pessoas que vivem com uma deficiência oculta.

Além das deficiências há uma lista de doenças crônicas como diabetes, câncer, asma, esclerose múltipla, epilepsia, fibrose cística, fibromialgia, Alzheimer, afazia, entre outras, a lista é grande.

O Cordão de Girassol é um cordão verde com desenhos de girassóis amarelos. Quando uma pessoa o utiliza, ela está sinalizando que tem uma deficiência oculta e pode precisar de suporte adicional, paciência ou ajuda em determinadas situações. O cordão é voluntário e gratuito, e pode ser usado em diversos ambientes, como aeroportos, supermercados, eventos públicos e outros locais onde o programa é reconhecido.

No Brasil, foi sancionada a lei (Lei 14.624 de 17/julho/23) que formaliza o uso nacional da fita com desenhos de girassóis como símbolo de identificação das pessoas com deficiências ocultas e doenças crônicas. O cordão de girassol previne mal-entendidos, dando mais tranquilidade e segurança aos usuários e aos atendentes.

Conforme a lei, seu uso é opcional, o exercício dos direitos da pessoa com deficiência não está condicionado ao acessório e seu uso não substitui a apresentação de documento comprobatório de deficiência quando solicitado.

– Benefícios do uso do cordão de girassol –

1. Aumento da Compreensão e Empatia: Ao usar o cordão, as pessoas com deficiências ocultas podem comunicar suas necessidades de maneira discreta, promovendo uma maior compreensão e empatia por parte dos outros.
   
2. Facilitação do Acesso ao Suporte: O cordão permite que funcionários de empresas e organizações identifiquem rapidamente quem pode precisar de assistência adicional, proporcionando um atendimento mais eficiente e inclusivo.
   
3. Redução da Ansiedade: Para muitas pessoas com deficiências ocultas, o medo de não serem compreendidas pode ser uma fonte significativa de ansiedade. O cordão oferece uma maneira de aliviar esse medo, garantindo que suas necessidades sejam reconhecidas sem a necessidade de explicações constantes.
   
4. Promoção da Inclusão: Iniciativas como o Cordão de Girassol ajudam a construir uma cultura de inclusão, onde as diferenças são respeitadas e todos têm a oportunidade de participar plenamente da sociedade.

– Como obter e usar o cordão de girassol –

O Cordão de Girassol pode ser obtido gratuitamente em vários locais que participam do programa, como aeroportos, supermercados e centros comunitários. Além disso, ele pode ser adquirido online através do site oficial do Hidden Disabilities Sunflower no Brasil. Ao usar o cordão, é importante lembrar que ele não é uma obrigação, mas uma ferramenta para facilitar a comunicação e a inclusão.

O Cordão de Girassol representa um passo significativo em direção a uma sociedade mais inclusiva e compreensiva. Ao permitir que pessoas com deficiências ocultas sinalizem suas necessidades de maneira discreta e eficaz, esta iniciativa promove uma cultura de empatia e apoio mútuo. À medida que mais pessoas e organizações adotam o Cordão de Girassol, continuamos a avançar em direção a um mundo onde todas as pessoas, independentemente de suas condições, podem se sentir compreendidas e valorizadas.

*O texto produzido pelo autor não reflete, necessariamente, a opinião do Portal VSP

Ciça Cordeiro
Colunista VSP

Jornalista, consultora em diversidade e inclusão, gestora em cultura inclusiva, comunicação e eventos acessíveis. Palestrante, atua ainda com políticas públicas para pessoas com deficiência. É a coordenadora de comunicação e consultora em DE&I no Grupo Talento Incluir.

Foto: Reprodução Internet

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