Mulherismo africana

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Uma vivência representativa e emancipatória para as mulheres negras em diáspora

Por Fabiana Conceição*

No último artigo, falamos sobre o surgimento do feminismo e suas prioridades de pautas, e como as mulheres não brancas não se sentem representadas por muitas agendas, que muitas vezes são antagônicas às suas realidades.

Outro dia, conversando com uma amiga, ela me contou sobre um grupo de mães em um aplicativo de mensagens que participa, e uma mãe estava falando que estava triste porque a babá pediu demissão.

Outras mães do grupo perguntaram sobre alternativas e começaram a discutir o desafio de encontrar uma babá, pois muitas delas engravidavam e não voltavam, e as novas técnicas para recrutar babás que não engravidassem.

Quando dizemos que raça e classe vêm antes de gênero, este é um exemplo prático. Tenho sempre me perguntado quando uma organização diz que tem uma grande porcentagem de mulheres em sua equipe, quem são essas mulheres, suas cores e seus respectivos cargos.

Poucas vezes os dados fazem recortes de raça ou classe, e a pequena quantidade de mulheres que alcançam cargos de liderança são, na maioria das vezes, mulheres brancas, com histórico de privilégios e pouco ou nenhum conhecimento sobre temas raciais e sociais, reproduzindo discursos patriarcais, racistas e classistas, como neste grupo de mensagens.

Então, onde as mulheres negras, periféricas, com deficiência e outras interseções de marcadores se sentem abraçadas e representadas pelo feminismo?

O empoderamento é uma construção importante para as mulheres brancas em seu processo de desenvolvimento civilizatório, mas não é suficiente para as mulheres negras, pois nossas necessidades e reivindicações sociais são muito distintas.

Quando buscamos soluções para nossos problemas na agenda das mulheres brancas, nos decepcionamos por não nos vermos refletidas na maioria das reivindicações e sofremos com isso.

Refletir sobre o Mulherismo Africana é um exercício de autoconhecimento para as mulheres negras em diáspora para entenderem sua história, o conceito de emancipação e dororidades.

Conforme discutimos no artigo anterior, o conceito de Mulherismo Africano foi cunhado por Clenora Hudson-Weems. E ela diz que não criou absolutamente nada, apenas uma nomenclatura, pois o Mulherismo não é uma teoria, mas sim a história e a vivência das mulheres negras africanas.

A história das mulheres africanas não é uma narrativa de mulheres frágeis que nunca trabalharam e buscavam apenas igualdade com os homens. Historicamente as mulheres africanas sempre tiveram princípios, valores e protagonismo dentro de suas comunidades.

“O Mulherismo Africana busca através da luta racial, restabelecer a emancipação da população negra”, afirma Katiuscia Ribeiro.

E através de 18 princípios fundamentais, o Mulherismo destaca a importância da terminologia própria e da autodefinição, retirando dos homens brancos nossa denominação como indivíduos, povo e historicidade.

Destaca a centralidade da família, fala da irmandade genuína no feminino, destacando fortaleza, unidade, autenticidade, flexibilidade de papéis, respeito, reconhecimento mútuo, espiritualidade, compatibilidade com o homem, respeito aos mais velhos, adaptabilidade, ambição, maternidade e sustento dos filhos.

O Mulherismo Africana não são apenas conceitos, mas sim experiências vividas pelas mulheres em África, e através delas podemos abraçar a diversidade cultural e multidisciplinar das mulheres negras em diáspora e também nos guiar para o autoconhecimento, reconhecimento histórico de protagonismo e valorizando nossas experiências individuais, nossas características únicas, nossa humanidade e direito de viver e se ver no mundo.

*O texto produzido pelo autor não reflete, necessariamente, a opinião do Portal VSP

Foto: Reprodução Internet

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