Para compreender e aceitar a pessoa não-binária

Para compreender e aceitar a pessoa não-binária
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Compreender e vivenciar uma cultura que aceite pessoas diferentes vai muito além do que entender o que palavras significam

Por Viviane Lopes*

O ser humano, sempre buscou dentro do seu existir e do seu compreender no mundo, uma resposta para suas dificuldades sentidas, percebidas e apreendidas; e na teoria, este movimento no avançar de sua história, deveria facilitar o entendimento de que termos surgem à época de seu tempo, para explicar muitas vezes o que sempre existiu mas nunca foi aceito, visto como necessário ser revelado na coletividade.

O termo não-binário surge ainda na fase industrial, quando muitas mulheres passaram a vestir calças e macacões, e deixaram de aderir ao figurino padrão de seu tempo. Mas não significa, que a não-binariedade não tenha sido sentida desde primórdios de nossa civilização.

Quando um bebê nasce, os adultos conseguem enxergar duas probabilidades de  gênero daquela criança com base em suas características físicas: menino ou menina. O menino tem pênis e a menina vagina. Então, aceitar que existem noções binárias sobre corpos humanos, masculinos e femininos, faz do processo de percepção de mim mesmo, algo simples e fácil. Só que não, a pessoa vai se identificando com seu corpo, somado a padrões, papéis e comportamentos esperados dela na cultura onde vive. Ela pode ter um corpo de mulher e se identificar mulher; um corpo de homem e se identificar homem. Mas, também há várias outras possibilidades. Não se identificar com nenhum desses dois gêneros  é ser não-binário. E este é um termo “guarda-chuva” usado para nomear aquelas pessoas que não se identificam com o gênero homem ou mulher.

A princípio parece um vácuo, uma impossibilidade de existência. Como viver sem se identificar com um ou outro gênero? Ora, quem reduziu o potencial humano (que pra mim ainda estamos descobrindo) a uma questão de gênero, fomos nós…. e não a Fonte Criadora. Nós apenas nos adaptamos a isso, e quando vem ao nosso conhecimento um outro existir/sentir/perceber diferente do meu, me força a sair da zona de conforto. Ou aceito, encaro com naturalidade; ou busco justificativas preconceituosas para o existir do outro, protegendo minhas crenças de qualquer forma de confronto.

A questão de gênero não tem relação com a sexualidade que o indivíduo irá desempenhar na sua vida e nem com a forma que ele irá expressar a sua não-binariedade. A pessoa não-binária pode se vestir da forma que quiser. Usar roupas consideradas femininas ou masculinas na cultura onde vive, ou ainda criar seu estilo próprio de expressão da sua identidade. Dentro da não-binariedade podemos encontrar outros subgrupos, como os gêneros fluídos (que não se identificam com um papel de gênero ou identidade exclusivamente) e  os agêneros (ageneridade, sem identificação alguma).

Há não-binários que preferem ser chamados por pronomes masculinos, femininos ou neutros. E se você quer ser um sujeito respeitoso e educado, é só perguntar: “qual é o seu pronome?”; assim, tentará deixar a pessoa o mais confortável e aceita possível.

Eu sou psicóloga, e mãe de uma pessoa não-binária. Confesso, que por ter criado esta pessoa à qual tenho amor infinito, ter dado alguns apelidos que me remetem a lembranças deliciosas da sua infância; tenho certa dificuldade para acertar os pronomes às vezes rsrsrsrs. Mas, quando são pessoas que acabo de conhecer ou pacientes, os pronomes não são problema nenhum. Então vamos tentar Ser com todo o nosso respeito, e parar de falar que isto é “mimimi”, “modismo”, “falta de ter o que fazer”, enfim; toda aceitação é um processo que compreende o conhecimento e o auto-conhecimento. A humanidade deve caminhar pra frente, e não retroceder.

Este sentir-se diferente do que a sociedade vai apresentando para você com seus padrões, pode começar ainda na infância. E o desconforto de tentar se adaptar ou se encaixar em algum modelo, pode gerar conflitos internos dolorosos, dificuldade nas relações interpessoais, não aceitação, problemas com auto-estima e auto-imagem, crises de disforia e ansiedade, depressão, entre outros.  E além de tentar conseguir dar conta de tudo isso, ainda tem que lidar muitas vezes com o preconceito dos pais, amigos e familiares. A dor é imensa, e muitas vezes ideias suicidas vêm numa tentativa de pôr fim a sua dor.

Pais, amigos, familiares, não-binários; precisam buscar compreender para viverem relações dentro de uma proposta de Cultura de Paz e Não-Violência. Muitas vezes solicitar ajuda profissional para construção de pontes saudáveis para um relacionamento é necessário. Aceitemos nossos não-binários! Cuidar é muito mais humano do que reparar um dano causado pelo preconceito!!!

*O texto produzido pelo autor não reflete, necessariamente, a opinião do Portal VSP

Viviane Lopes
Colunista VSP

Psicóloga formada há 28 anos pela Universidade São Judas Tadeu, Viviane tem especialização em Psicodrama e Yoga. É diretora de Teatro Senior, atriz, cantadeira e arteira. Já trabalhou na área da saúde, e hoje atua com educação e clínica, além de trabalhar há 30 anos na área social com o público longevo.

Foto: Alexander Grey/Pexels

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