Yanomami: A luta dos povos indígenas tem tudo a ver com o seu programa de diversidade

Yanomami: A luta dos povos indígenas tem tudo a ver com o seu programa de diversidade
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Se você não está olhando para esse tema dentro da sua empresa, reveja sua visão de mundo

Por Liliane Rocha*

No mês em que celebramos o Dia Nacional de Luta dos Povos Indígenas, instituído pela Lei n° 11.696, de 2008, temos a oportunidade de refletir sobre o caminho que percorremos dos quase 300 anos da morte de Sepé ao massacre dos povos Yanomami nos dias atuais.

Para quem não sabe, Sepé Tiaraju de Sete Povos das Missões – conjunto de sete aldeamentos indígenas fundado pelos Jesuítas espanhóis na Região do “Rio Grande de São Pedro”, atual Rio Grande do Sul. Sepé foi o líder indígena guarani que lutou contra a dominação espanhola e portuguesa entre os anos de 1753 e 1756, o que tornou a data de 7 de fevereiro um marco em referência à memória de resistência indígena e de sua morte.

No livro Como Ser um Líder Inclusivo, lembramos que: “Percorrendo brevemente a história do país, lembramos que, até o ano de 1500, o Brasil era povoado somente por comunidades indígenas, estima-se que havia cerca de 3 milhões de indígenas em terras brasileiras versus cerca de 818 mil indígenas na atualidade. Temos aqui o primeiro grande traço de desvalorização da diversidade, expresso no genocídio ocasionado pela chegada de povos europeus ao Brasil”.

Mais recentemente, temos acompanhado a tragédia e o genocídio dos povos Yanomami. Sim, podemos considerar genocídio, pois, segundo o Ministério dos Povos Indígenas, 570 crianças Yanomamis morreram por contaminação de mercúrio, desnutrição e fome nos últimos quatro anos. A população indígena brasileira, segundo resultados do último Censo Demográfico realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em 2010, é de cerca de 800 mil indígenas, o que representa aproximadamente 0,4% da população brasileira. Desse total, 572.083 vivem na zona rural e 324.834 habitam as zonas urbanas brasileiras.

Você que está lendo deve estar pensando, “Mas, o que este tema tem a ver com as empresas?”. E eu te respondo: Tudo! Afinal, se trouxermos esta conversa para o mercado de trabalho, resgatando os dados do Estudo Diversidade, Representatividade e Percepção – Censo Multissetorial da Gestão Kairós 2022, sabemos que, hoje, no quadro funcional das grandes empresas, profissionais indígenas são apenas 0,9%; sendo que mulheres indígenas são 0,23% e homens indígenas 0,67%. E na liderança (nível gerente e acima), indígenas são 1%; mulheres indígenas: 0,13% e homens indígenas: 0,87%.

Sabemos que hoje poucas são as empresas que trabalham a temática indígena com seriedade dentro da estratégia da Diversidade e ESG. Por se tratar de um tema crucial, complexo e de profunda importância, fico pensando quais são as empresas que estão procurando agendar uma reunião com o Ministério dos Povos Indígenas, para compreender o cenário atual e as possíveis formas de atuação intersetorial? Quais compreendem que, dentro dos projetos sociais que apoiam, este tema é relevante e deve ser contemplado?

A atual ministra dos Povos Indígenas, Sônia Guajajara, trouxe em seu discurso de posse uma constatação que evidencia o quanto ainda temos a caminhar no processo de reconhecimento de direitos e humanização dessa população: “[…] a existência dos povos indígenas do Brasil é cercada por uma leitura extremamente distorcida da realidade. Ou nos romantizam, ou nos demonizam […]”.

Lembro que certa vez, em meados de 2010, quando eu ainda liderava a área de Investimento Social e Diversidade de uma grande empresa, tive a oportunidade e o privilégio de levar Ailton Krenak, líder indígena, ambientalista e escritor, para conversar com executivos de Comunicação, Meio ambiente, Gestão e Novos Negócios daquela empresa. O objetivo era que eles pudessem compreender a importância de atuar de forma consistente, responsável e diferenciada em nossos projetos sociais. E, assim, contribuir com as populações indígenas da região de Mato Grosso e Pará, a partir de uma atuação que pudesse ser colaborativa e não destrutiva.

Lembro que, para realizar esta atividade, enfrentei certo tabu por parte da alta liderança, mas, após a sua realização, todos ampliaram o seu nível de consciência, empatia e entendimento sobre o tema de uma forma tão expressiva que, certamente, até hoje, mais de 10 anos depois, acredito que atuem pautados no que aprendemos naquele dia.

Recordo também de uma empresa do setor financeiro, na qual trabalhei no período de 2007, que disponibilizava recorrentemente palestras inspiracionais e de temas diversos para os funcionários. Tudo isso de forma gratuita, no horário do almoço e no final do dia. E já naquela ocasião, incluía na programação de palestras o tema povos originários.

Pois bem, se você não está olhando para esse tema, ou pensa nestas questões somente no dia 7 de fevereiro, ou quando vê a tragédia estampada em todos os noticiários, reveja sua visão de mundo. Pense de que forma você e sua empresa, propositivamente, podem mudar essa realidade e escrever um novo capítulo na história do Brasil. Você sabe quantos profissionais de origem indígena há na sua empresa? Apoia projetos de comunidades indígenas? Contempla um olhar atento para este tema em sua cadeia de valor? Ou já se uniu a alguma das campanhas de doações para contribuir na redução da fome ou da falta de atendimento de saúde para os Yanomami?

Se você respondeu não para todas as questões acima, repense e saiba que ainda dá tempo de mudar, se começar a partir de agora!

*Liliane Rocha é CEO e fundadora da Gestão Kairós, consultoria especializada em Sustentabilidade e Diversidade, autora do livro Como ser um líder Inclusivo e premiada com o 101 Top Global Diversity and Inclusion Leaders

Publicado originalmente no portal Época Negócios
Foto: Povo Yanomami/Reprodução Jornal da USP

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