Sem oportunidade de emprego, deficiente visual cria portal para debater acessibilidade: ‘Combater preconceito’
Marcelo Martins, de Guareí (SP), perdeu a visão aos nove anos. Sem oportunidades de emprego, ele criou uma página para noticiar histórias locais e debater acessibilidade.
Por Rafaela Zem
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“Eu tinha nove anos quando acordei e parei de enxergar. Pedi para minha mãe acender a luz. A coitada disse que ainda era de madrugada, por isso, voltei a dormir. Mais tarde, me apoiando nas paredes, fui pra fora de casa e senti o calor do sol. A partir desse dia, minha vida mudou“, lembra Marcelo Martins, que há mais de 27 anos se tornou deficiente visual.
Logo nos primeiros meses após perder a visão, o morador de Guareí (SP) passou lidar com a falta de acessibilidade e preconceito.
Sem uma escola apropriada para a sua necessidade, Marcelo viajava quase quatros horas por dia para estudar na cidade vizinha, Itapetininga (SP).
“Fiquei um ano parado por conta da depressão. Quando voltei pra escola, alguns parentes falavam que braille não era letra, que não ia ajudar em nada. Graças aos meus professores, que também eram cegos, me reergui” conta Marcelo, que aos poucos descobriu uma nova paixão: o jornalismo.
Foi entre idas e vindas de consultas médicas, que um motorista de transporte da Saúde descobriu o talento de Marcelo para trabalhar em rádios.
Na mesma semana, Marcelo ganhou um programa de notícias em uma emissora comunitária.
“Me encontrei na Comunicação. Comecei a participar de vários programas de rádio, sempre de forma voluntária. O mercado ainda não tem dado espaço para pessoas cegas. As empresas até que contratam portadores de outras deficiências, mas o espaço para os cegos ainda é restrito“, desabafou Marcelo.
Sem oportunidades de emprego, no ano de 2019, Marcelo criou o próprio portal de notícias para debater questões de acessibilidade e noticiar acontecimentos locais.
“É tudo voluntário. Faço porque amo. Uma equipe me ajuda a checar e a produzir as postagens. Queria investir mais, ter um computador adaptado as minhas necessidades, mas ainda não tenho condições financeiras. Apesar disso, tenho muitos projetos. Ainda quero me formar em Jornalismo“, explicou.
Atualmente com mais de 8 mil seguidores nas redes sociais, Marcelo acredita que a página é uma forma de representar os mais de 7 milhões de brasileiros que possuem algum nível de deficiência visual.
“Quero mostrar que os deficientes visuais não precisam ficar parados. Há muitas formas de viver e superar a perda da visão. Precisamos nos mover, combater o preconceito e mostrar que podemos. A vida continua“, afirmou Marcelo.
Publicado originalmente no portal G1
Foto: Marcelo Martins/Arquivo Pessoal
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