História, preconceito e esperança marcam o Dia Mundial de Luta contra a Aids

História, preconceito e esperança marcam o Dia Mundial de Luta contra a Aids
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O dia 1º de dezembro tem sido marcado ao longo dos anos como um momento específico para a conscientização da luta contra a Aids. E os principais resultados dessa luta você verá nessa matéria: da “sentença de morte” que, no início, era dada às pessoas diagnosticadas aos casos de cura encontrados no mundo

Por Cleber Siqueira

Hoje, 1º de dezembro, celebramos o Dia Mundial de Luta contra a Aids. Uma data significante para conscientizar a população da importância de se falar sobre a doença e combater o preconceito.

Estima-se que, atualmente, 694 mil pessoas estejam em tratamento da doença no Brasil e que, em 2021, 45 mil novos pacientes iniciaram a terapia antirretroviral no país. Os números ainda apontam que aproximadamente 135 mil pessoas vivem com o HIV e não sabem. Segundo números da Unaids, em 2021, cerca de 5,9 milhões de pessoas não sabiam que viviam com o vírus.

Para comemorar a data, o Portal VSP traz para você um pouco da história, uma entrevista que o médico infectologista, Guilherme Campos, deu ao jornal A Hora e o mais importante, fala sobre esperança, com quatro casos de cura já comprovadas pela medicina desde 2011.

– História –

No início dos anos 1980, diversos casos de uma doença infecciosa até então desconhecida começaram a surgir nos Estados Unidos, sobretudo em HSH (termo para homens que mantém frequentemente ou esporadicamente relações sexuais com outros homens, independente de terem identidade sexual homossexual).

Os pacientes, antes saudáveis, eram diagnosticados com pneumonia, tuberculose e um tipo raro de câncer conhecido por sarcoma de Kaposi.

A doença foi elevada oficialmente à categoria de epidemia —que logo virou uma pandemia— pelo Relatório Semanal de Morbidade e Mortalidade, do instituto nacional de saúde pública americano, em junho de 1981 e, no ano seguinte, denominada como Aids (sigla para Acquired ImmunoDeficiency Syndrome ou Síndrome da ImunoDeficiência Adquirida).

Sua causa, o vírus HIV (Human Immunodeficiency Virus), foi identificada em 1983, em meio à escalada do preconceito contra gays, travestis, trans e trabalhadores sexuais.

O primeiro caso de Aids no Brasil foi notificado em 1983, em São Paulo, e a primeira droga contra o vírus foi aprovada em 1987.

– Qualidade de vida –

A Aids é uma doença crônica que prejudica o sistema imunológico e a capacidade do organismo de se defender contra infecções, como neurotoxoplasmose, pneumocistose, meningite e tuberculose.

Causada pelo HIV, a Aids se desenvolve no organismo a partir do momento que a pessoa entra em contato com o vírus e é o estágio mais avançado da infecção. O HIV é um vírus sexualmente transmissível, mas que também pode ser transmitido pelo sangue infectado e de forma vertical, ou seja, a mãe com HIV passa o vírus para o filho na gravidez, no parto ou durante a amamentação. A principal forma de prevenção é o uso de preservativos, visto que qualquer tipo de relação sexual pode transmitir o vírus.

No início, a Aids era considerada uma doença aguda que levava o paciente à morte em um curto prazo de tempo. Atualmente, o avanço da medicina levou a medicamentos específicos que resultaram numa terapia antirretroviral.

Mesmo ainda sendo considerada uma doença sem cura, a terapia antirretroviral, que no Brasil é distribuída no Brasil de forma gratuita, proporciona melhor qualidade de vida às pessoas infectadas.

– Esperança –

Apesar de, realmente, a Aids ainda ser considerada uma doença sem cura, há esperança de dias melhores, e eles estão na forma dos quatro casos de cura com pacientes que receberam diferentes transplantes de pessoas e genes resistentes ao HIV.

O primeiro caso de cura do HIV aconteceu em 2011, com Timothy Ray Brown, que ficou conhecido como “o paciente de Berlim”. Ele recebeu um transplante de medula óssea de um doador resistente ao HIV, para tratar uma leucemia.

O segundo caso de cura aconteceu em Londres, em 2020. O paciente passou por um tratamento com transplante de células-tronco, com um doador que também possuía genes resistentes ao vírus.

Ainda em 2020, uma mulher foi curada do HIV após receber células-tronco doadas de um cordão umbilical com mutação resistente ao vírus. Ela que ficou conhecida como a “paciente de Nova York”, se tornou a terceira pessoa a ser curada do HIV.

O quarto paciente a se curar do HIV foi um estadunidense de 66 anos. O homem, que convivia com o vírus desde a década de 1980, também recebeu um transplante de medula óssea para tratar uma leucemia cujo doador era resistente ao vírus.

*- Entrevista –

Guilherme Campos , Médico infectologista

A Hora – Quando a Aids se desenvolve depois da infecção?

Guilherme Campos – O vírus começa lentamente a infectar o corpo e vai chegar um momento em que a imunidade vai estar tão baixa que vai apresentar os sintomas da Aids ou das doenças que a acompanham. A síndrome vai estar ativa e pode evoluir rápido ou levar anos para apresentar sintomas. Tem mais a ver com a imunidade da pessoa do que com o vírus. Tem pessoas que possuem alterações na sua imunidade, inclusive, genéticas que favorecem esse combate contra o vírus.

Como é o tratamento hoje? E a vida de uma pessoa com Aids?

Campos – Diferente do tratamento que se chamava de coquetel, que eram inúmeros comprimidos por dia, hoje o tratamento é feito geralmente com dois comprimidos uma vez ao dia, e essa pessoa vai conseguir ter uma vida normal. Ela consegue fazer com que sua imunidade volte ao normal depois que começou o tratamento e não existem limitações. A restrição vai ser de doação de sangue, orientação de relação sexual com preservativo. Ainda existem alguns cuidados extras com questões de saúde e vacinação, mas a pessoa não se torna doente.

O que mudou dos anos 80 para os dias de hoje?

Campos – Nos anos 80 o diagnóstico era sinônimo de morte. A pessoa podia se aposentar, inclusive, porque não tinha tratamento. Hoje a Aids tem medicamentos que controlam a doença. Não conseguem eliminar de fato todo o vírus do corpo, mas conseguem eliminar boa parte e, com isso, a imunidade acaba ficando em níveis aceitáveis.

Temos, hoje, um tratamento efetivo e com pouco efeito colateral. Lá no início a quantidade de medicamento era enorme e de efeitos colaterais também. Hoje, o tratamento é tranquilo, as pessoas não precisam ter medo de procurar atendimento.

*Entrevista cedida originalmente ao jornal A Hora
Foto: iStock/Pexels

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Cleber Siqueira

Cleber Siqueira

Jornalista, é autor do livro "Fernando, o menino sem dedos". Fundador e editor do Portal Viver Sem Preconceitos, tem pós-graduação em Sociopsicologia. Sua monografia, intitulada "Homossexualidade, o amor às chamas: um breve ensaio sobre o preconceito", faz uma análise entre a literatura específica e a vida real da população homossexual no início dos anos 2000.

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