O capacitismo e a inclusão das pessoas com deficiência
“Acessibilidade é direito, não privilégio”. A Lei Brasileira de Inclusão é completa na garantia de direitos das pessoas com deficiência, mas infelizmente, ainda é desconhecida e ignorada. E já que o assunto é acessibilidade, conheça um pouco do “Manual Anticapacitista”, livro que será lançado nesta semana
Por Ciça Cordeiro*
O novo censo do IBGE será divulgado agora em abril. Confesso que estou ansiosa para saber dos números, mas temerosa por saber que 9% da população não está contabilizada nessa conta. Minha ansiedade maior é conhecer o número de pessoas com deficiência. Em 2010, éramos quase 46 milhões, em 2019, após revisão, 17,3 milhões de pessoas. E agora? Eu acredito no que diz a OMS – somos 15% da população mundial, então no Brasil não deve ser diferente.
Infelizmente o Censo feito em 2022 seguiu a mesma metodologia de 2010, e sinceramente, isso não faz sentido. Pessoas com deficiência só são contabilizadas a cada dez casas. Na minha vez não fui contada, e outros amigos também não. Por que não fazer três perguntas a mais em todas as casas?
Como diz minha amiga Carolina Ignarra, CEO do Grupo Talento Incluir – “Não somos poucos, só não somos contabilizados! Pessoas que não são contabilizadas, não são percebidas, não são consideradas e não são incluídas!”
E eu digo que sem esses dados fica impossível fazer políticas públicas. A Lei Brasileira de Inclusão (LBI), principal manifestação dos avanços na vida das pessoas com deficiência, tem como grande desafio ampliar sua divulgação. Apesar de ser uma legislação muito bem elaborada e abrangente é ainda desconhecida e não foi totalmente regulamentada.
A pessoa com deficiência precisa de autonomia e segurança para garantir seus direitos. Precisa de acessibilidade, seja para acessar um lugar, um serviço, comprar um produto ou obter uma informação. Quanto mais acessos, oportunidades e respeito, menores as dificuldades. Quanto menos barreiras, exclusão, segregação, discriminação ou capacitismo, mais dignidade e produtividade.
Acessibilidade é condição para transpor barreiras e nos permite participar de todos os âmbitos da vida social
Como sempre digo, “acessibilidade é direito, não privilégio” – A LBI – Lei Brasileira de Inclusão, uma das melhores leis do mundo, é completa na garantia de direitos das pessoas com deficiência, principalmente quanto a “acessibilidade”, mas, infelizmente, ainda é desconhecida e ignorada por muitos.
Quando há falta de acessibilidade, quando há barreiras atitudinais, encontramos o capacitismo. Ele vem junto no pacote. É o preconceito, o sistema de opressão contra as pessoas com deficiência. Ele pode ser ativo ou passivo e impede as pessoas de estarem no centro das decisões, de ocupar espaços de poder e de sentirem-se representadas socialmente.
Falando sobre o tema, nesta semana será lançado o livro: Manual Anticapacitista –de Billy Saga e Carolina Ignarra.
O livro reúne as vivências da consultora Carolina Ignarra e do rapper Billy Saga, cadeirantes e ativistas pelos direitos das pessoas com deficiência. Com uma linguagem acessível e de fácil compreensão, os autores relatam experiências pessoais, explicam o que é o capacitismo e quais práticas podem ser adotadas para sua desconstrução.
Através de dados estatísticos, a obra traz um panorama sobre as pessoas com deficiência no Brasil e sobre as leis e ações afirmativas voltadas para este público. Aqui está um convite à desconstrução do preconceito, à promoção da acessibilidade, da inclusão e da diversidade de corpos em todos os espaços.
De acordo com os autores, o manual tem por objetivo trazer informações sobre o que é e como desconstruir o capacitismo, um comportamento opressor que subestima ou superestima as capacidades de alguém por sua deficiência.
Também mostram como a deficiência não os limita e como corpos com deficiência são políticos e geram impacto por onde passam. A obra reúne ações de conscientização e estratégias para ampliar a inclusão de diversidade e a construção de uma sociedade mais justa.
Os autores reúnem casos e histórias que vivenciaram, sobre dificuldades que a opressão do capacitismo traz para a inclusão das pessoas com deficiência na sociedade.
Também apresenta para o leitor um prefácio disruptivo, com depoimentos de 21 pessoas com diferentes tipos de deficiências e com variadas histórias de vida e papéis sociais. Além disso, traz informações importantes sobre leis, expressões atualizadas para se referir às pessoas com deficiência, acessibilidade, frases marcantes, histórias reais e dicas de como se tornar um aliado de fato da inclusão de pessoas com deficiência, com uma lista de influencers e pessoas especializadas no tema para seguir nas redes sociais.
Te convido a ler o livro, afinal somos preconceituosos, somos capacitistas em desconstrução, inclusive eu!
*O texto produzido pelo autor não reflete, necessariamente, a opinião do Portal VSP
Ciça Cordeiro
Colunista VSP
Jornalista, consultora em diversidade e inclusão, gestora em cultura inclusiva, comunicação e eventos acessíveis. Palestrante, atua ainda com políticas públicas para pessoas com deficiência. É a coordenadora de comunicação e consultora em DE&I no Grupo Talento Incluir.
Foto: Capa do Manual Anticapacitista/Reprodução
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