Como prevenir o suicídio entre a população trans e travesti?
Comunidade trans corre mais risco de cometer o autoextermínio que a população em geral. Preconceitos e discriminações são gatilhos para saúde mental
Por Arthur Bugre
Em 10 de setembro celebrou-se o Dia Mundial de Prevenção ao Suicídio e aproveito essa data para apresentar aqui algumas pesquisas que apontam caminhos para a redução das taxas de autoextermínio entre a população trans e travesti. Mas antes é importante entender um pouco de como se dá essa relação entre suicídio e a nossa comunidade.
Quase a totalidade da população trans (94,8%) afirma ter sofrido algum tipo de violência motivada por discriminação devido à sua identidade de gênero, segundo o levantamento Assassinato de Travestis e Transexuais Brasileiras em 2020.
Encarar essas situações, comentários, “piadas”, julgamentos e preconceitos todos os dias é muito desgastante, machuca, cria um sentimento de não pertencimento e leva nossa saúde mental à exaustão. Não é à toa que estudos sobre saúde de pessoas transgêneros, da revista The Lancet, revelaram, em 2018, que aproximadamente 60% da população transgênero sofrem de depressão.
Já um estudo do National Center for Transgender Equality revela que 40% das pessoas trans tentaram autoextermínio. Além disso, a pesquisa da Universidade da Califórnia, em Los Angeles, aponta para o fato de essa comunidade pensar em suicídio 14 vezes mais em comparação à população geral.
Levantamentos nacionais também corroboram essa ideia. Uma pesquisa realizada em 2015 pelo Núcleo de Direitos Humanos e Cidadania LGBT e pelo Departamento de Antropologia e Arqueologia da UFMG ouviu 28 homens trans e constatou que 24 deles, o equivalente a 85,7%, já cogitaram ou tentaram o suicídio.
Diante desses dados alarmantes, o que a ciência já aponta como ações preventivas para reduzir o autoextermínio entre a população trans e travesti?
Segundo um estudo publicado no periódico científico médico Jama Network Open deste ano, jovens não-binários e transgêneros que recebem atendimento de saúde especializado, incluindo tratamento hormonal de afirmação de gênero e bloqueadores de puberdade, tiveram uma redução de 60% de quadros de depressão e 73% nos pensamentos suicidas um ano após o início do atendimento.
O estudo foi realizado entre adolescentes e jovens transgêneros e não-binários entre 13 e 20 anos para avaliar o impacto da terapia afirmativa na saúde mental. No início do estudo, 59 (56,7%) foram diagnosticados com depressão moderada a grave, 52 (50%) apresentaram sintomas de ansiedade e 45 (43,3%) relataram pensamentos suicidas ou automutilação.
66,3% dos pacientes receberam bloqueadores de puberdade, terapia hormonal ou ambos, enquanto 33,7% não receberam nenhum medicamento ou bloqueador hormonal. Após um ano de terapia afirmativa, alguma forma de depressão foi reduzida em 60% e os pensamentos suicidas em 73%.
Ainda segundo a pesquisa publicada no periódico científico médico Jama Network Open, os adolescentes sem acesso a esses serviços foram duas vezes mais propensos a sofrer de depressão moderada a grave três meses após o início dos cuidados de saúde, e quase três vezes mais propensos a ter pensamentos suicidas ou tentativas de automutilação seis meses depois.
Outra pesquisa, realizada em 2018 e publicado no site Journal of Adolescent Health, mostra que respeitar nome social reduz riscos de suicídio e depressão. Os pesquisadores conversaram com 129 jovens transexuais, incluindo não-bináries e gênero fluido. A pergunta principal era relativa a quais contextos o nome social é aceito na vida dessas pessoas, por exemplo: elas são chamadas como gostariam em casa, no trabalho, na escola e com os amigos?
De acordo com o estudo, quem pode usar o nome escolhido em mais ambientes apresenta até 71% menos sintomas de depressão, pensa 34% menos em suicídio e tem o risco de tirar a própria vida reduzido em 65%, em comparação aos entrevistados que são constantemente chamados de outras formas.
Ou seja, aqui apresentei algumas ações que a ciência já aponta como caminhos para reduzir o índice de suicídio entre a população trans e travesti. Caminhos que envolvem a não violação de direitos, como o respeito ao acesso à saúde e diferentes formas de acolhimento.
E se você é uma pessoa trans ou travesti que precisa de atendimento psicológico ou psiquiátrico, mas no momento não tem condição de pagar uma consulta, tenho a indicação de uma lista de profissionais que atendem de graça ou com um valor acessível. É só me procurar nas minhas redes sociais (@arthurbugre).
Além disso, no Brasil, o Centro de Valorização da Vida (CVV) realiza trabalho de escuta e acolhimento das pessoas em sofrimento, pelo site e pelo telefone 188.
Publicado originalmente no jornal Estado de Minas
Foto: Pexels
Siga o Viver Sem Preconceitos nas Redes Sociais
Curta, comente, compartilhe…
Vamos fazer do mundo um lugar melhor para se viver,
um lugar com menos preconceitos!
O Portal Viver Sem Preconceitos autoriza a reprodução de seus conteúdos -total ou parcial- desde que citada a fonte e da notificação por escrito.
Para o uso de matérias e conteúdos de terceiros publicados aqui, deve-se observar as regras propostas por eles.