Saúde mental das pessoas com deficiência
Reflexões sobre educação e empregabilidade
Por Ciça Cordeiro*
O Janeiro Branco é uma campanha anual que visa conscientizar sobre a importância da saúde mental e emocional. Escolhido por simbolizar o início de um novo ciclo, o mês de janeiro estimula reflexões e mudanças positivas. A campanha promove o autocuidado, combate estigmas e incentiva o desenvolvimento de redes de apoio, além de influenciar políticas públicas para ampliar o acesso à saúde mental. Com isso, reforça a importância de colocar a saúde emocional no centro das discussões, reconhecendo que ela é fundamental para uma vida equilibrada.
Com a importância da campanha quero trazer a reflexão e dar visibilidade a um grupo que muitas vezes enfrenta desafios únicos: as pessoas com deficiência. Embora avanços importantes tenham sido feitos em termos de inclusão, principalmente depois da Lei Brasileira de Inclusão (LBI), ainda há barreiras significativas que impactam a saúde mental dessas pessoas, especialmente em dois aspectos: educação e empregabilidade.
-Educação e saúde mental-
A educação é fundamental para o desenvolvimento pessoal e emocional. No caso de pessoas com deficiência, no entanto, a falta de acessibilidade em escolas e universidades ainda é um grande obstáculo. Muitas instituições falham em oferecer recursos arquitetônicos, digitais, atitudinais e metodológicos adequados, o que pode levar à exclusão acadêmica, afetando a autoestima e a percepção de valor pessoal.
Além disso, o preconceito no ambiente escolar, manifestado em estigmas e bullying, agrava o cenário, gerando estresse e comprometendo o desempenho desses estudantes. A ausência de suporte emocional adequado também intensifica essas barreiras, dificultando a superação de desafios específicos.
Para mudar essa realidade, é crucial investir em políticas de acessibilidade completas, capacitar professores e gestores para lidar com as necessidades dos alunos e implementar programas de apoio psicológico. Promover a inclusão educacional não é apenas uma questão de justiça social, mas também de garantir saúde mental e igualdade de oportunidades.
-Empregabilidade e saúde mental-
O trabalho é um pilar essencial para a autonomia e o pertencimento social, mas pessoas com deficiência enfrentam barreiras que afetam diretamente sua saúde mental. Apesar da Lei de Cotas, o desemprego entre esse grupo permanece alto, com muitas empresas encarando a contratação como mera obrigação legal, o que pode gerar sentimentos de inadequação e isolamento.
Mesmo quando contratadas, essas pessoas frequentemente enfrentam ambientes de trabalho capacitistas, onde a acessibilidade é limitada e os vieses inconscientes prevalecem. Além disso, muitas vezes são relegadas a posições que não valorizam suas habilidades, reforçando sentimentos de invisibilidade e desmotivação.
Para reverter esse cenário, empresas devem criar ambientes acessíveis e inclusivos, promover treinamentos contra o capacitismo e garantir oportunidades de crescimento que valorizem competências individuais. Investir na inclusão profissional vai além de cumprir leis; trata-se de construir ambientes mais justos e produtivos para todos.
A saúde mental das pessoas com deficiência está profundamente ligada à sua inclusão social. Tanto na educação quanto no mercado de trabalho, é essencial enfrentar barreiras estruturais e atitudinais para promover mudanças significativas. O Janeiro Branco nos lembra que cuidar da mente é cuidar das relações humanas. Para pessoas com deficiência, essa atenção é urgente e indispensável. Somente com inclusão, acessibilidade e respeito é possível garantir bem-estar emocional e construir uma sociedade verdadeiramente equitativa.
*O texto produzido pelo autor não reflete, necessariamente, a opinião do Portal VSP
Ciça Cordeiro
Colunista VSP
Jornalista, consultora em diversidade e inclusão, gestora em cultura inclusiva, comunicação e eventos acessíveis. Palestrante, atua ainda com políticas públicas para pessoas com deficiência. É a coordenadora de comunicação e consultora em DE&I no Grupo Talento Incluir.
Foto: Divulgação
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