Estudantes com deficiência e o ensino superior
Cresce o número de estudantes com deficiência no ensino superior; quais são os desafios de acessibilidade
Por Ciça Cordeiro*
Nos últimos cinco anos, o Censo da Educação (INEP), demonstrou um crescimento expressivo no número de alunos com deficiência matriculados no ensino superior no Brasil, alcançando um aumento de 91%, enquanto o número de alunos matriculados teve um aumento de 16%. No entanto, apesar desse avanço, ainda há muito a ser feito para garantir uma experiência acadêmica inclusiva e acessível para todos. Entre os desafios mais significativos, a falta de acessibilidade persiste como a principal barreira enfrentada por esses alunos.
A expansão do acesso ao ensino superior para pessoas com deficiência é um marco importante. O aumento de 91% no número de alunos com deficiência em cursos universitários demonstra o impacto positivo das políticas inclusivas e a crescente conscientização social. Entretanto, o caminho para a inclusão completa ainda é árduo. Apesar do aumento no número de matrículas, muitos estudantes encontram um ambiente universitário ainda inadequado para atender suas necessidades específicas, resultando em experiências desiguais e, muitas vezes, excludentes.
A região Sudeste destaca-se como aquela com o maior número de alunos com deficiência matriculados nas universidades. Esse número elevado é resultado não só da concentração de instituições de ensino superior, mas também do acesso ampliado por meio de melhores condições de transporte e infraestrutura urbana. A acessibilidade nos meios de transporte público – como ônibus adaptados, metrôs acessíveis e estações com recursos de apoio – é um fator fundamental para que esses estudantes consigam se deslocar com autonomia e segurança. A possibilidade de locomoção segura e acessível é essencial para viabilizar a frequência às aulas e a participação plena na vida acadêmica, especialmente para alunos que residem em cidades com infraestrutura mais inclusiva.
– Principais barreiras no ensino superior para pessoas com deficiência –
1. Falta de acessibilidade arquitetônica
Muitos prédios universitários, especialmente os mais antigos, ainda carecem de adequações físicas, como rampas, elevadores acessíveis, sanitários adaptados e sinalizações em braile. Essa falta de estrutura limita a mobilidade dos alunos com deficiência física, dificultando sua circulação pelo campus e, em alguns casos, até mesmo sua entrada em determinadas salas de aula.
2. Falta de tecnologia assistiva
Ferramentas de tecnologia assistiva, como softwares de leitura de tela, dispositivos de comunicação alternativa, entre outros, ainda são escassas ou mal adaptadas em muitas instituições. Essa carência impacta, sobretudo, alunos com deficiência visual ou auditiva, que dependem desses recursos para acessar conteúdos de forma equitativa.
3. Material didático inacessível
A ausência de materiais didáticos acessíveis, como textos em braile, vídeos com legendas e intérpretes de Libras, é uma barreira comum enfrentada por alunos com deficiência visual ou auditiva. Muitos professores não possuem formação para adaptar seus conteúdos e metodologias, o que limita a compreensão e o engajamento desses estudantes nas atividades acadêmicas.
4. Falta de formação docente para inclusão
A inclusão efetiva de alunos com deficiência depende de uma formação docente voltada para atender às necessidades específicas desses estudantes. Muitos professores ainda se sentem despreparados para lidar com as particularidades dos alunos com deficiência, seja em relação às adaptações de atividades, ao uso de linguagem inclusiva ou à promoção de um ambiente de aprendizado acolhedor.
5. Preconceito e estigmas sociais
Ainda existe um estigma social em relação às capacidades acadêmicas das pessoas com deficiência. Esse preconceito, que muitas vezes se manifesta na forma de atitudes condescendentes ou discriminatórias, pode impactar a autoconfiança dos alunos e dificultar seu desenvolvimento acadêmico e social.
– Caminhos para uma educação superior mais inclusiva –
Para transformar o ensino superior em um ambiente verdadeiramente inclusivo, é necessário investir em políticas públicas e iniciativas institucionais que promovam a acessibilidade e a inclusão. Alguns passos essenciais incluem:
• Melhorias arquitetônicas: A adaptação de todos os espaços físicos para garantir acessibilidade plena é um ponto de partida fundamental. Projetos de infraestrutura inclusiva devem ser incorporados tanto na construção de novos prédios quanto na adaptação dos já existentes.
• Investimento em tecnologia assistiva: Universidades precisam investir em recursos de tecnologia assistiva e promover capacitação para que esses recursos sejam utilizados plenamente pelos estudantes e pelos docentes.
• Apoio pedagógico e adaptabilidade curricular: A oferta de materiais didáticos acessíveis e a flexibilização de metodologias de ensino ajudam a assegurar que todos os alunos tenham as mesmas oportunidades de aprendizado.
• Formação de educadores: A capacitação de professores para lidar com a diversidade de necessidades dos alunos com deficiência é essencial para garantir uma inclusão mais efetiva. Essa formação pode ser oferecida por meio de cursos de extensão, palestras e workshops, além de práticas de inclusão nas licenciaturas e cursos de formação pedagógica.
• Promoção de uma cultura inclusiva: A educação inclusiva não se resume a adaptações físicas e tecnológicas; é também uma questão de cultura. As universidades devem promover o respeito e a valorização das diferenças, criando um ambiente onde os estudantes com deficiência se sintam aceitos e valorizados.
O crescimento no número de estudantes com deficiência no ensino superior é uma conquista significativa, mas os desafios ainda são consideráveis. É fundamental que as universidades adotem uma postura proativa para derrubar as barreiras de acessibilidade e criar ambientes inclusivos que valorizem a diversidade e proporcionem igualdade de oportunidades. Somente assim será possível garantir que esses estudantes tenham a chance de alcançar seu pleno potencial e contribuir de maneira significativa para a sociedade.
Vale ressaltar, ainda, que muitas empresas afirmam não encontrar no mercado profissionais com deficiência capacitados com nível superior. Esse argumento, contudo, não se justifica frente ao aumento de matrículas e formações concluídas por pessoas com deficiência. Os dados do Censo da Educação demonstram que a presença desses profissionais na educação superior é cada vez maior. Empresas que realmente desejam promover a inclusão precisam rever seus critérios e métodos de recrutamento para que talentos qualificados com deficiência possam ser reconhecidos e incluídos em suas equipes.
*O texto produzido pelo autor não reflete, necessariamente, a opinião do Portal VSP
Ciça Cordeiro
Colunista VSP
Jornalista, consultora em diversidade e inclusão, gestora em cultura inclusiva, comunicação e eventos acessíveis. Palestrante, atua ainda com políticas públicas para pessoas com deficiência. É a coordenadora de comunicação e consultora em DE&I no Grupo Talento Incluir.
Foto: Bruno Ascenso
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