Porquê insistimos

Porquê insistimos
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Sei que é difícil decifrar os motivos que levam alguém a insistir usar os remos quando o barco a motor navega em sentido contrário. Porém, há quem acredite que mais importante que vencer as ondas, é a perpetuação dos ideais

Por Cleber Siqueira

Alguns dias atrás me perguntaram porque, depois de mais de três e meio, eu insisto em manter o Portal Viver Sem Preconceitos, mesmo sem receber um tostão, aliás, muito pelo contrário, afinal tenho despesas, são diversas taxas que pago para manutenção do site.

Instintivamente –ou até como forma de defesa– quase pedi a pessoa que ela me respondesse: porque não? Mas segurei o ímpeto, e expliquei os motivos. Na verdade, contei, ou melhor, recontei a história do Viver Sem Preconceitos. Digo recontei, porque só depois percebi que o que eu falava eram informações novas; uma história que agora unia a vida do portal à minha vida pessoal.

Meu primeiro argumento foi sobre o fato do portal não contar com a tal receita financeira. Disse que “dinheiro é bom, a gente gosta, mas… não é tudo!”. Afinal, o Viver Sem Preconceitos nasceu de um propósito: o profundo desejo de deixar um legado.

– Transformar é possível –

Eu acredito na transformação do ser humano. Sei que é possível, aconteceu comigo. E esse é o legado que quero deixar.

O fato de ter nascido numa casa muito humilde, com vizinhos nordestinos de um lado e negros de outro; de ter crescido numa família com pessoas com deficiência; de vivenciar a adoção de diversos parentes; de estar junto a meu afilhado e ter sido um de seus pilares assim que ele assumiu a homossexualidade, não foram motivos suficientes para que eu me tornasse um adulto sem preconceitos.

Dentro da minha ignorância eu até acreditava que não discriminava ninguém, mas prestava muita atenção e achava o máximo quando via um casal gay de mãos dadas nas ruas. Sempre pensava na “coragem” que ambos tinham para enfrentar a sociedade. Da mesma maneira, tratava como superação cada uma das vitórias das minhas tias que lutavam contra as sequelas da poliomielite. Elas eram “exemplos” e nós sempre comentávamos que “apesar” da deficiência, elas estavam progredindo.

Os anos foram passando, e muitas pessoas que cruzaram meu caminho me ajudaram a perceber que eu, mesmo com tantos ingredientes em mãos para não me tornar um adulto cheio de preconceitos, era exatamente o que eu havia me tornado.

Desde pequeno ver pessoas sendo discriminadas era algo que me incomodava demais e perceber que, mesmo sem ter a intenção, eu também agia com preconceito em determinados momentos, me fez repensar.

Passei a me policiar, fui estudar, fiz pós graduação tratando do tema e procurei rechear meu círculo de amigos com pessoas que pensam como eu. Por fim, escrevi o livro “Fernando, o menino sem dedos” e, em seguida, chega a “cereja do bolo”: a criação do portal.

Hoje, três anos e meio depois, conto com a colaboração de oito colunistas. Especialistas que me ajudam, cada um na sua área e à sua maneira, não apenas a combater os preconceitos e as discriminações, mas também a ter entendimento; profissionais que se preocupam muito mais com o ato de dividir seu conhecimento do que com o de somar vaidades.

É esse grupo que tem me ajudado a construir meu tão sonhado legado –aliás, não mais o “meu”, mas sim, o “nosso”. Com eles, em breve chegaremos às 600 publicações no site com mais de 1000 postagens em redes sociais.

E, se para alguns pode parecer pouco, eu estou muito feliz e contando nos dedos a chegada do milésimo seguidor no Instagram (faltam 30). Eu sei o valor de cada um desses seguidores. Combater preconceitos gera preconceito. Poucos são aqueles que gostam de tratar do assunto de forma tão aberta, transparente e esclarecedora como fazemos no VSP e por isso parabenizo e valorizo cada uma dessas pessoas que têm coragem de nos seguir.

Oito colunistas, mil seguidores, mais de mil publicações, números tão elevados para tratar de um assunto tão delicado por alguém tão desconhecido. Ninguém escreve para o VSP por escrever; ninguém segue o VSP por seguir. Não tenho a menor dúvida que cada uma dessas pessoas em algum momento já sentiu que poderia fazer a diferença, seja na vida de alguém ou do planeta.

São essas pessoas que estão comigo, são essas pessoas que querem fazer parte de uma Vida Sem Preconceitos. Então, se cheguei até aqui, por qual motivo eu deveria desistir?

Percebe agora, porquê insisto?

*Leia mais sobre o que o legado do VSP significa, em: Nosso legado para hoje e sempre
Foto: Ambareesh Sridhar Photography/Pexels

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Cleber Siqueira

Cleber Siqueira

Jornalista, é autor do livro "Fernando, o menino sem dedos". Fundador e editor do Portal Viver Sem Preconceitos, tem pós-graduação em Sociopsicologia. Sua monografia, intitulada "Homossexualidade, o amor às chamas: um breve ensaio sobre o preconceito", faz uma análise entre a literatura específica e a vida real da população homossexual no início dos anos 2000.

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