O desafio da maternidade para mulheres com deficiência

Os desafios de mães com deficiência e mães de filhos com deficiência

Por Ciça Cordeiro*

A maternidade é uma experiência marcante na vida das mulheres que sonham em ser mães. Se você é mãe sabe bem como é. Agora já parou para pensar nos desafios enfrentados por mães com deficiência? E mães de filhos com deficiência? Esses são os temas que quero abordar nesse artigo.

Ser mãe é desafiador, ser mãe com deficiência também. E o maior desafio, eu diria que, é justamente enfrentar os preconceitos. Esses preconceitos têm um impacto significativo na vida das mães com deficiência, tornando-as mais propensas a enfrentar discriminação, isolamento social e dificuldades adicionais em sua jornada de maternidade.

É importante desafiar esses preconceitos e promover uma cultura de inclusão, aceitação e apoio para todas as mães, independentemente de sua condição física ou sensorial. E quando falamos no mercado de trabalho é fundamental termos empresas que apoiam essas profissionais.

Até quando mulheres terão que escolher entre carreira e maternidade? Se mulheres ainda hoje sofrem preconceito, imagina mulheres, profissionais com deficiência?

Vamos falar de alguns estereótipos que enfrentamos. São eles:

Subestimação de suas habilidades parentais: Muitas pessoas assumem que mães com deficiência são incapazes de cuidar adequadamente de seus filhos, baseando-se apenas em sua condição física ou sensorial.

Dúvida sobre a capacidade de criar filhos: Há uma tendência em duvidar da capacidade das mães com deficiência em criar seus filhos de maneira adequada e saudável. Isso pode resultar em julgamentos severos por parte da sociedade e muitas vezes da própria família.

Falta de acessibilidade em serviços para mães e crianças: Serviços e instalações destinados a mães e crianças não são acessíveis para pessoas com deficiência. Isso pode criar barreiras adicionais para mães com deficiência, tornando-as menos capazes de acessar recursos e apoio para si e seus filhos. A mãe com deficiência é inviabilizada por ser julgada como menos capaz de ser mãe, pela falta de acessibilidade e incentivo.

Estereótipos de fragilidade ou dependência: Algumas pessoas assumem que mães com deficiência são frágeis, dependentes ou incapazes de assumir responsabilidades parentais devido às suas limitações físicas ou sensoriais. Isso pode levar à infantilização ou desvalorização de suas contribuições como mães.

Julgamento sobre suas escolhas reprodutivas: Mães com deficiência podem enfrentar críticas e julgamentos sobre suas escolhas reprodutivas, como ter filhos ou usar tecnologias de reprodução assistida. Algumas pessoas podem questionar se elas são capazes de oferecer um ambiente adequado para criar uma família.

Mães com deficiência são como todas as outras mães! É importante reconhecer e apoiá-las, oferecendo respeito, oportunidades e recursos que qualquer mãe receberia. Isso inclui acesso a cuidados médicos adequados, apoio emocional, serviços de assistência e oportunidades de emprego que levem em consideração suas habilidades e necessidades específicas. É fundamental saber acolher essas profissionais, pois além de altamente capazes, possuem grande potencial de liderança.

– E as mães de filhos com deficiência? –

Mães de filhos com deficiência merecem todo o apoio, reconhecimento e respeito por sua dedicação e amor incondicional. Elas desempenham um papel crucial na vida de seus filhos, enfrentando desafios únicos, além de lidar com questões emocionais complexas.  Algumas coisas importantes que precisam ser consideradas ao falar dessas mães:

Respeitar sua experiência: Reconheça a experiência única de cada mãe e evite fazer suposições sobre suas capacidades ou necessidades com base na deficiência de seus filhos. Cada família é única e enfrenta desafios específicos.

Oferecer apoio prático e emocional: Mães de crianças com deficiência podem se beneficiar de apoio prático, como acesso a serviços de saúde especializados, terapias e recursos educacionais. Além disso, o apoio emocional é fundamental. Ouvir suas preocupações, oferecer um ombro amigo e reconhecer suas realizações pode fazer uma grande diferença.

Promover a inclusão e a aceitação: É importante promover uma cultura de inclusão e aceitação, tanto para a criança com deficiência quanto para sua família. Isso significa criar ambientes onde todos se sintam valorizados e incluídos, independentemente de suas habilidades.

Celebrar suas conquistas: Mães de filhos com deficiência enfrentam desafios diários significativos. Celebrar suas conquistas, grandes e pequenas, pode ajudá-las a se sentir reconhecidas e valorizadas.

Advogar por mudanças: Apoiar mães de crianças com deficiência também significa trabalhar para criar mudanças positivas em termos de acessibilidade, inclusão e direito das pessoas com deficiência. Isso pode envolver também advocacia por políticas públicas inclusivas, acessibilidade em espaços públicos e oportunidades educacionais equitativas.

Ao falar sobre mães de filhos com deficiência, é essencial abordar o assunto com sensibilidade, empatia e respeito, reconhecendo o amor e a dedicação que essas mães demonstram em sua jornada de cuidado e criação de seus filhos.

Recentemente dois episódios me chamaram muito a atenção.  Uma amiga entrou em contato comigo desesperada me pedindo ajuda. Ela é mãe de um menino autista, trabalha na educação municipal e precisava alterar seu horário e carga horária no trabalho para se dedicar ao filho. O que é previsto em lei. Mas teve seu direito negado na escola onde trabalhava. Correu atrás e após vários caminhos conseguiu enfim o direito de estar com seu filho, mas teve que brigar por um direito que já era seu.

Outra situação, me matriculei em um curso de direito das pessoas com deficiência e fiquei impressionada com a quantidade de mães de filhos com deficiência que partiram para área do direito justamente para entender e defender os direitos de seus filhos.

A todas nós mães, com deficiência ou mães de filhos com deficiência todo meu carinho, respeito e admiração. Me uno a todas nessa busca incessante da garantia do que é nosso por direito e principalmente na garantia do nosso protagonismo!

*O texto produzido pelo autor não reflete, necessariamente, a opinião do Portal VSP

Ciça Cordeiro
Colunista VSP

Jornalista, consultora em diversidade e inclusão, gestora em cultura inclusiva, comunicação e eventos acessíveis. Palestrante, atua ainda com políticas públicas para pessoas com deficiência. É a coordenadora de comunicação e consultora em DE&I no Grupo Talento Incluir.

Foto: MartProduction/Pexels

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