O perdão

O perdão
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Perdoar! Mais do que palavras, mais do que uma atitude, perdoar deve ser um sentimento. Um sentimento bom para quem perdoa

Por Cleber Siqueira

Mais do que vontade, hoje acordei com uma necessidade muita grande de falar sobre o que penso ser o perdão. E o que me levou a isso acredito que seja a forma como vejo e sinto o que é perdoar. Olha só: seja qual for a conversa, sempre que o assunto abordar o perdão ou o perdoar, invariavelmente estarão associadas duas ou mais pessoas. E mais, pelo senso comum, o óbvio é que a pessoa que errou é quem deve ser perdoada. Sendo assim, o perdão é um benefício que se dá a essa pessoa.

Mas é ela, a pessoa que errou, a grande beneficiada pelo perdão? Eu acredito que não!
Para mim, é muito claro que quem mais ganha com o perdão, é aquele que perdoa.

Vou contar uma história que, apesar de não ter uma clara relação com perdão, por analogia tem tudo a ver.

Alguns anos atrás mudou-se para o bairro onde moro a d. Clara (nome fictício). Com pouco mais de 60 anos, ela era uma senhora que não conseguia ficar dentro de sua casa. Todos os dias, pela manhã, a tarde e também a noite, d. Clara revezava as casas em que tocava a campainha para pedir desde açúcar a gelo até caixas de papelão. Isso quando não se convidada para entrar e tomar um café. “Se algo existe, é possível que ela peça”, foi assim que ela ficou conhecida pelos moradores.

Porém, mais do que conhecida, os moradores começaram a ter ojeriza de d. Clara. Seu nome e suas ações passaram a ser lembrados com frequência em quase todas as rodas de conversa. Eu mesmo presenciei o assunto por diversas vezes. E o pior: me deixei contaminar. Cheguei a mudar meu caminho para não cruzar com ela e a entrar em casa quando a vi despontar ao longe em minha rua.

Mas essas, da forma como enxergo, eram questões menores. O grande problema era o que eu sentia quando a via: um aperto muito grande no peito, uma vontade enorme de não me aproximar daquela pessoa, como se ela fosse algo muito ruim. Passados alguns dias isso começou a me incomodar, e eu finalmente fiz a pergunta: “Por que estou sentindo isso com relação a d. Clara? O que foi que ela me fez?”

E a resposta (que eu já sabia) foi: “você não tem motivo para sentir isso! Afinal, d. Clara nunca fez nada de mal a você. Nada!” Ela era apenas uma senhora solitária que precisa de alguém para conversar, mas que não encontrava ninguém que tivesse empatia para isso. Quer dizer, não tinha encontrado até ali.

Não mudei mais o meu caminho, passei a cumprimenta-la com frequência e muitas vezes paramos para bater um papo. O resultado disso é que nunca mais senti aquele aperto no peito e a vontade de não estar perto dela sumiu. Ela não era (e nunca foi) uma pessoa má; aquele sentimento ruim era meu e pertencia somente a mim. A d. Clara não podia fazer nada para me ajudar, somente eu podia mudar tal situação.

Somente eu podia me perdoar!

É assim que enxergo como funciona o ato de perdoar. Quando perdoamos não oferecemos um benefício a outra pessoa, mas aliviamos a nossa alma. Enquanto não perdoamos carregamos a energia ruim de uma história mal resolvida. Perdoar é virar a página dessa história para colocar um ponto final; é espantar fantasmas do passado; é sentir a energia negativa se transformar em ar que enche os pulmões de alegria.

Perdoar é ter a capacidade de sentir como a vida pode e deve ser feliz.

Por isso, acredite, a felicidade não é eterna, mas pode ser encontrada desde as pequenas coisas, assim como também dentro de você. Quando tiver oportunidade, perdoe… e quando não tiver oportunidade, lembre-se que perdoar vai fazer bem a você. Quem sabe não seja esse o incentivo que você precisa?

Foto: Kampus Production/Pexels

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Cleber Siqueira

Cleber Siqueira

Jornalista, é autor do livro "Fernando, o menino sem dedos". Fundador e editor do Portal Viver Sem Preconceitos, tem pós-graduação em Sociopsicologia. Sua monografia, intitulada "Homossexualidade, o amor às chamas: um breve ensaio sobre o preconceito", faz uma análise entre a literatura específica e a vida real da população homossexual no início dos anos 2000.

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