Quando chega a hora de parar

Quando chega a hora de parar
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A vida é feita de decisões, algumas são fáceis, outras extremamente difíceis. Minha fácil adaptação às mudanças sempre foi motivo de comentários. Os mais próximos me chamavam de camaleão. Mas agora é diferente!

Por Cleber Siqueira

Em boa parte da minha vida profissional fui um workaholic. Sempre em dois empregos e, a noite, cursos e pós-graduação. O “tempinho” que sobrava ia todo para família. Afinal, jovem ainda, não precisava “perder” o pouco tempo que restava pensando em saúde. O que eu não imaginava é que a saúde não me tiraria de sua mira.

Minha primeira cirurgia foi antes de me tornar um workaholic. Eu estava com 19 anos e no último ano da faculdade. O que seguiu depois disso é coisa de perder a conta. Foram mais três ou quatro cirurgias antes de ter dois AVCs e mais sete, depois.

Mesmo tendo feito uma cirurgia no coração por causa de um dos AVCs, posso dizer que nada disso deixou sequelas aparentes. Porém, elas existem, e eu tive de aprender a conviver com esse distúrbio oculto. Aliás, aprendizado que me faz ter uma vida 99% normal.

Mas se os AVCs e o coração não atrapalham minha vida, já não posso dizer o mesmo da minha coluna. Foram duas cirurgias… por enquanto. Uma artrodese com colocação de prótese na cervical e outra artrodese na lombar. A cirurgia da cervical só me trouxe benefícios, com melhora dos movimentos que gira em torno dos 80% a 90%.

A lombar também me trouxe muitos benefícios. Voltar a andar normalmente foi “só” o principal deles. Porém, complicações descobertas durante a cirurgia e outras que surgiram logo depois, deixaram sequelas. A monoparestesia do pé esquerdo me levou à condição de pessoa com deficiência.

Nada disso me impediu de trabalhar. Eu diminui o ritmo, mas não parei. Inclusive, quando deixei o último emprego com registro, me aventurei em novos desafios televisivos e decidi escrever meu livro: “Fernando, o menino sem dedos”.

Apesar desse relato ser bem curto, na verdade, essa história toda se desenrola num período de uns 30 anos, o que significa que a minha idade avançou. E como avançou! Um ano após o lançamento do livro, quando quis voltar ao mercado de trabalho, o etarismo não deixou. Em pelo menos cinco oportunidades fui “descartado” exclusivamente por causa da idade.

Velho, deficiente e com portas e mais portas se fechando me restaram freelas e campanha política, que eu abracei. No meio dessa turbulência chega a pandemia e com ela a escassez de trabalho aumenta. Nesse momento decido tirar do papel um projeto guardado há anos. Foi assim que, em março de 2021, nascia o Portal Viver Sem Preconceitos.

Seis meses atrás, enquanto ainda comemorava o crescimento do Portal com a chegada de novos colunistas descubro dois tumores na medula da lombar e, mais recentemente, uma lesão na região da coluna torácica.

Esses últimos seis meses foram decisivos em minha vida. Conversei muito com o sujeito que eu via do outro lado do espelho, mas principalmente conversei com minha família. E, por unanimidade, decidimos que é hora de parar.

Engraçado que durante as últimas semanas, enquanto eu me preparava para escrever esse texto, chegou mais um convite para processo seletivo. Desconsidera-lo me doeu, mas foi o que fiz.

Agradeço a todos  que lembraram de mim para um trabalho ou outro, a todos que me ofereceram freelas e também campanha política, mas agora é hora de passar o bastão. A partir de hoje estou fora do mercado e dedicarei minha vida exclusivamente ao Portal Viver Sem Preconceitos e ao que estiver ligado diretamente a ele.

E, antes de mais nada, dedicarei muito tempo para cuidar da minha saúde.

Por fim, lembro que também durante as últimas semanas, o vídeo abaixo chegou a mim. Com ele um rápido filme passou em minha mente, me fez recordar de um texto que escrevi alguns anos atrás sobre a importância de um “simples” abraço, de um beijo, de cada vez que você cheira uma flor e de cada vez que você diz “eu te amo”.

Cuide de você e de quem  você ama; valorize sempre e sinta com carinho cada um desses momentos, pois não sabemos se ele será o último. Afinal de contas, um dia ele será….

Bom vídeo!

Alberto Gugelmin Neto foi presidente da UNIMED, morreu aos 56 anos em junho de 2023, vítima de câncer no pâncreas. Esse é o discurso dele na abertura do último congresso em que ele participou.
Ouça, vale uma reflexão sobre o que ele fala e como estamos conduzindo nossas vidas.

Foto em destaque: Keegan Houser/Pexels

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Vamos fazer do mundo um lugar melhor para se viver,
um lugar com menos preconceitos!

Cleber Siqueira

Cleber Siqueira

Jornalista, é autor do livro "Fernando, o menino sem dedos". Fundador e editor do Portal Viver Sem Preconceitos, tem pós-graduação em Sociopsicologia. Sua monografia, intitulada "Homossexualidade, o amor às chamas: um breve ensaio sobre o preconceito", faz uma análise entre a literatura específica e a vida real da população homossexual no início dos anos 2000.

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