Etarismo na arquitetura: cada vez mais uma profissão de jovens?
Onde estão as gerações mais antigas de arquitetos e designers que contam com formações pautadas fora da cultura dos softwares?
Po Marilia Matoso
Iris Barrel é uma designer que nasceu no Queens, filha única de uma russa com um americano, dono de uma empresa de espelhos. Estudou artes na Universidade de Wisconsin e começou a carreira no WWD, publicação que é uma referência na indústria de moda.
Em 1948, já ao lado do marido, Carl Apfel, fundou uma marca bem-sucedida de tecidos que, inclusive, fez parte da decoração da Casa Branca durante o mandato de nove presidentes dos Estados Unidos. Apesar de terem vendido a empresa em 1992, o casal continuou trabalhando pela marca por mais 13 anos, ou seja, até 2005. Iris Apfel estava bem aposentada da indústria de design de interiores, quando, aos 84 anos ela foi convidada por Harold Koda — curador do Met’s Costume Institute —, a exibir sua coleção de roupas e acessórios.
Aos 97 anos, ela assinou um contrato de modelo com a agência IMG Models — a mesma que representa as irmãs Haddid —, e também é a mulher mais velha do mundo a estampar uma capa de revista de moda. Iris já esteve presente em muitas campanhas publicitárias, tais como MAC Cosmetics e Kate Spade.
Quando completou 98 anos, contou sua história através do livro “Iris Apfel: Accidental Icon”, além de tudo, ela também é escritora e conta com 4 livros publicados. Mais recentemente, em agosto de 2021, outro grande reconhecimento: ela ganhou o prêmio Andrée Putman Lifetime Achievement Award — que celebra e reconhece a visão singular de sua carreira.
Iris continua ativa até hoje aos 101 anos de idade, mas infelizmente ela é exceção. As profissões de arquitetura e design podem ser amargas com quem envelhece e o etarismo é cruel nessas áreas.
Etarismo é nada mais do que a discriminação contra pessoas com base em estereótipos associados à idade.
O etarismo colabora para a segregação da população idosa e está ligado aos padrões sociais construídos na sociedade. Por exemplo, o ideal da produtividade, o culto à juventude, o desigual acesso à novas tecnologias, são padrões que desfavorecem o desenvolvimento e a inclusão da pessoa idosa.
Nas áreas de arquitetura e design com o advento dos softwares de renderização, modelagem 3D, plataformas BIM, entre outros milhares de programas gráficos conhecidos por serem dominados pelas gerações mais jovens, o etarismo é evidente e infelizmente, crescente.
Ora, mas e grandes nomes da arquitetura como Norman Foster e ícones do design como a própria Iris Apfel que continuam na ativa com mais de 80 anos?
Nomes como Foster e Iris são exceção na linha de montagem das profissões criativas. São Star Architects e Designers que conseguiram criar uma assinatura com seus projetos e podem se dar ao luxo até de nem sequer querer aprender um software.
Não é assim que caminha a carreira da maioria dos profissionais dos pequenos escritórios ou que trabalham para terceiros.
Isso não significa que gerações mais antigas de profissionais não consigam ou não possam dominar esses programas. Mas que sim, empresas e escritórios preferem as habilidades tecnológicas de um profissional jovem do que a experiência a escuta ativa de um profissional 60+. Considerando a expectativa de vida cada vez mais alta, esses profissionais não vão simplesmente parar de trabalhar com 65 anos.
Será que as gerações mais antigas de arquitetos e designers são descartáveis à medida que suas formações pautadas fora da cultura dos softwares não é mais valorizada?
Ao mesmo tempo, será que estamos criando uma leva de jovens extremamente habilitados nos mais modernos softwares, porém extremamente deficientes em conteúdo, referências, pesquisa criativa, escrita e inteligência emocional?
O etarismo impacta na qualidade de vida dos idosos e tende a favorecer a exclusão e a segregação dessas pessoas, que passam a não se sentirem acolhidos pela sociedade. As consequências desse comportamento discriminatório se estendem desde a questões de saúde até questões econômicas e de desenvolvimento humano.
Algo que precisamos pensar.
Publicado originalmente no site Arch Daily
Foto em destaque: Karolina Grabowska/Pexels
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