O preconceito é do ser humano. A discriminação é dos desumanos

O preconceito é do ser humano. A discriminação é dos desumanos
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O preconceito torna-se odioso quando julgamos um indivíduo não pelos seus méritos, o que exige conhecimento da pessoa, mas pela imagem da coletividade a que pertence

Por Jorge Wilson Simeira Jacob

Quem não for preconceituoso que levante a mão!

Se esta proposta for levada a efeito para um grupo de pessoas, conscientes e sinceras, nenhuma mão será levantada. Todos estamos carregados de preconceitos de variadas espécies. Uns de um tipo, outros de outro. Temos uma variedade de preconceitos: uns não gostam da cor da pele, tem aversão aos pretos ou amarelos; outros da religião, tem restrições aos muçulmanos, aos judeus; e alguns subestimam os latinos e os orientais. Sem falar do preconceito econômico — pobres contra a riqueza e vice versa. E por aí vão as nossas idiossincrasias. Temos conceitos preestabelecidos (preconceitos) de quase tudo e de quase todos. A verdade é que o animal humano é na sua natureza essencialmente preconceituoso.

Esse só não é transparente por ser um dos sentimentos que mais disfarçamos. Os preconceitos são considerados politicamente incorretos — principalmente o preconceito racial, que é crime no Brasil. Julgar uma pessoa por sua cor, origem ou crença, como não é socialmente aceito, só na intimidade o admitimos. Assumir em público o preconceito racial é uma raridade. Ele existe, mas não é reconhecido. A sociedade brasileira ufana-se de não ter preconceito racial. Gostamos de ser vistos como um exemplo de miscigenação bem-sucedida. O que em termos relativos é uma verdade.

Há, porém, que se fazer distinção entre as diversas facetas dos preconceitos. Nem todos são negativos. Por exemplo, baixamos a guarda no contato com uma pessoa civilizada, que transmite confiança; ou colocamos um pé atrás com um indivíduo de má aparência e mal-encarado. São ações motivadas por preconceitos adquiridos pela experiência ou educação. Nem sempre acertamos com base no preconceito. Ele não garante o resultado, mas é a nossa primeira reação.

O preconceito torna-se odioso quando julgamos um indivíduo não pelos seus méritos, o que exige conhecimento da pessoa, mas pela imagem da coletividade a que pertence. Em todos os grupos sociais há os bons e os maus exemplos. São os racistas que, para indicar uma exceção à regra, reconhecem existir o “preto de alma branca”. Mas nem por isto deixam de generalizar. O mal do preconceito está na padronização, na não individualização. O desafio está na racionalidade de respeitar a individualidade de cada um independentemente do grupo a que pertence.

As razões para o desenvolvimento do preconceito são as mais variadas. Algumas até bem fundamentadas. Geralmente são causadas por inveja, competição e estágios de civilização. Nenhuma coletividade está livre dos preconceitos. Nós temos, por preconceito, o costume de avaliar:  os anglo-saxões como frios, indiferentes ao amor familiar; os muçulmanos como fanáticos que desejam doutrinar o mundo; e os africanos como sub proteicos. E os “civilizados” nos veem como sensuais, emotivos e dependentes da família. Todas estas avaliações são baseadas em alguns exemplos vivenciados ou relatados. Um caso marcante foi de uma amiga americana, professora universitária, que conhecia bem o Brasil, e tinha um forte preconceito contra a mulher brasileira. Considerava-as todas promíscuas. Formou essa opinião em alguns casos que conhecia e das cenas televisionadas do Carnaval carioca.

O preconceito enquanto um sentimento individual pode ser compreendido. Torna-se, porém, insuportável quando leva a sociedquanào discriminação. O Brasil, depois da libertação dos escravos, ainda que preconceituoso, nunca criou leis discriminando nenhuma raça ou religião. Nunca tivemos banheiros, escolas, ônibus separados pela cor da pele. E nem sombra de uma Ku Klux Klan. Ainda que existam entidades sociais que não os aceitem como sócios, mas fazem exceção desde que sejam ricos e/ou importantes. Seria este um preconceito econômico?

O preconceito pode passar desapercebido. Já a discriminação machuca por ser declarada. As vítimas da discriminação necessitam de nível elevado de isenção de ânimo para superar um sentimento de recalque. O normal é uma revolta íntima contra os seus desiguais, o que acontece nos Estados Unidos — onde a discriminação fez história. Por humanidade e por espírito prático a discriminação é um mal a ser combatido.

O preconceito é do ser humano. A discriminação é dos desumanos.

Publicado originalmente no jornal Opção
Foto: Alexandre Saraiva Carniato/Pexels

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Redação

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