Você conhece o teu vizinho?
Ao terminar a leitura desse texto, muito provavelmente você saberá a resposta para a pergunta: Quem é o principal culpado, o ladrão de carros ou o consumidor de peças roubadas?
Seja qual for sua resposta, lembre-se que um não sobrevive sem o outro
Por Cleber Siqueira
Nas últimas semanas um sem número de notícias estapafúrdias pipocou na imprensa e muitas acabaram por viralizar nas redes sociais. Casos que, inexplicavelmente, são tratados pelo Brasil afora como atitudes de “gente do bem”. Atitudes grotescas e violentas que me levam a classificar para alguns (e aqui fala o sociopsicologo e não o jornalista) como de pessoas às quais enxergo certo nível de perturbação mental ou de periculosidade.
Esquecendo a cronologia dos fatos, segue abaixo, a sequência das atrocidades que empunham o Brasil exatamente para o contrário do que o portal Viver Sem Preconceitos se dedica há quase dois anos e eu há mais de 20: o combate aos preconceitos e às discriminações.
– No Paraná, dois casos de intolerância, um deles, se confirmado na justiça, trata de crime previsto em lei (§1o. Art.20/Lei 7.716/1989). Em Ponta Grossa, uma professora, dentro da sala de aula e “vestida” com uma bandeira do Brasil bate continência e, em seguida, faz a saudação nazista (esticando o braço e espalmando a mão) na direção dos alunos. Em Curitiba, estudantes de um colégio de classe alta surgem com uma bandeira do PT e urinam sobre ela. Toda a ação foi filmada pelo grupo que em seguida divulgou as imagens nas redes sociais para o “divertimento” de todos.
– No Rio de Janeiro, durante um torneio de futebol de salão entre faculdades, alunos do curso de medicina gritaram contra os colegas, do Espírito Santo: “é, eu sou playboy, não tenho culpa se seu pai é motoboy”. Numa verdadeira (e infeliz) alusão inversa a uma frase bem recorrente nos últimos tempos, podemos dizer que: “não era apenas futebol“.
– Em Belo Horizonte, a cena que reflete o momento que vivemos no país, jovens de um colégio da elite fazem o gesto bolsonarista de arminha com as mãos e gritam o lema do movimento integralista de 1930, que tem raízes ligadas ao fascismo de Mussolini, com a adaptação do presidente Bolsonaro: “Deus, Pátria e Família”. E pra fechar com chave de ouro, em seguida espancam um garoto que decidiu gritar “Lula lá” perto deles.
– Já em Goiânia, chegou a vez da ex-ministra do governo Bolsonaro, Damares Alves. Durante um culto evangélico, a recém eleita senadora, decidiu falar o que “não poderia dizer como figura pública”, pois ali estava sob a proteção divina. De maneira dramática relatou casos de abuso e estupro infantil em que recém-nascidos foram violentados, e crianças traficadas para o exterior, a partir da Ilha de Marajó, no Pará. Crianças que tiveram os dentes arrancados e recebiam alimentação pastosa para facilitar o sexo oral e anal. Mesmo sem nenhuma prova, Damares disse que ela e Bolsonaro tiveram conhecimento dos crimes enquanto ela era ministra. Tudo isso teria acontecido até que, por mais uma interdição divina, o presidente Bolsonaro acabaria com a farra.
– Por último, em São Paulo, e talvez a principal motivação para esse texto: a estupidez generalizada que ocorreu ontem, 12/10, na Basílica de Aparecida. Apoiadores que acompanharam o presidente em sua visita ao Santuário hostilizaram a imprensa, chegando a colocar o dedo no rosto do jornalista e do cinegrafista. Segundo a repórter Daniela Lopes, da TV Vanguarda, ouvida pelo UOL, “os bolsonaristas tentaram agredir fisicamente a imprensa”. A desordem se estendeu para dentro da Basílica. Os seguidores de Bolsonaro interromperam a missa das 14h com vaias e palavras de ordem, além de tentar puxar o coro de “mito”, mas sem efeito. O padre Eduardo Ribeiro, que celebrava a missa, pediu silêncio e rogou aos fiéis que preparassem o “coração, viemos aqui para rezar”.
Você que leu até aqui, percebeu que algumas situações se repetiram? “Crianças e estudantes de colégio ou faculdades destinadas à alta classe“, gente ou “cidadãos do bem“, “zombaria, intolerância e agressão voltadas aos mais pobres ou aos diferentes” e, finalmente… “Bolsonaro“.
Em uma leitura rápida e imprudente, sem dúvida somos levados a pensar que “é tudo culpa do Bolsonaro”. Será?
Foi o presidente quem ergueu o braço fazendo gesto nazista? Foi ele quem entoou cântico aporofóbico contra estudantes pobres do Espírito Santo ou que lembram o movimento integralista de 1930? Foi ele quem falou sobre os casos de abuso e estupro de crianças no Pará? Foi ele quem hostilizou pessoas e até o padre de Aparecida?
Você me responde que pode não ter sido ele, mas ele é o mentor. Que é ele quem conduz e induz as pessoas à práticas hostis e de agressões. Ele é o mito!
Então, se realmente ele é o culpado pela indução das pessoas à essas práticas, porquê eu não o sigo?
Porque dentro de mim não reside a intolerância. Quando eu a vejo, eu a repugno.
A repulsa e a indignação da intolerância praticada contra o outro, nos ensina o que é a empatia. Quem não quer sentir empatia, mais cedo ou mais tarde compactua com a intolerância.
Por isso, não se esqueça, a intolerância não se propaga apenas pelas mãos daquele que sabe usa-la, mas principalmente porque existe quem compactua com ela.
Foto: Lisa Fotios/Pexels
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