Gordofobia, um verdadeiro sobrepeso à alma
Diferente do que a maioria das pessoas pensa, não passamos por um momento de ‘romantização’ da obesidade. “Mobilizações, como o body positive, associadas ao plus size não são uma apologia” e sim, um processo ao “incentivo contra os padrões sociais cruéis, difundidos em vários momentos da história”.
Por Érica Dante*
O termo plus size tem origem nos Estados Unidos, na década 20, disseminado pela Lane Bryant, um grande varejo de moda com muitas peças de tamanhos maiores, sendo uma referência em roupas para gestantes. Atualmente, a denominação classifica manequins acima de 44, porém, muito além disso, representa um movimento em constante evolução no Brasil e no mundo: a aceitação do corpo e a quebra da tradicional crença limitante, relacionando um número de manequim ao status de beleza e, mais, à saúde.
As mobilizações, como o body positive, associadas ao plus size não são uma apologia à obesidade, como parcela dos desavisados insistem em anunciar. Na verdade, esse processo é um incentivo contra os padrões sociais cruéis, difundidos em vários momentos da história, oprimindo quem está à margem física e emocionalmente. Inclusive, é possível citar casos envolvendo famosos, como a cantora Preta Gil, sempre criticada nas redes sociais com enxurradas de comentários gordofóbicos por causa do seu corpo e pela sua atitude empoderada frente aos preconceitos existentes.
Infelizmente, o preconceito contra a obesidade não se limita a mensagens, pois está normalizado e enraizado no cotidiano da sociedade. Muitas vezes, a intolerância determina o acesso de uma pessoa gorda ao mercado de trabalho ou a rejeição da mesma, diante de um potencial encontro amoroso. O preconceito também ocorre no cinema e na televisão, bastando assistir a obras, como o filme “O amor é cego”, e a novela “Avenida Brasil”.
Mesmo apresentando um mercado nacional que movimenta, aproximadamente, R$ 9,6 bilhões, em 2022, registrando crescimento de 21%, nos últimos três anos, as pessoas com obesidade costumam ter de pagar mais, conforme cada caso, em companhias de transporte e em roupas. Tudo isso sem contar nos diversos segmentos que, por meio da publicidade, começam a incluir pessoas fora do padrão de culto à beleza em seus anúncios, a passos lentos, mesmo representando uma grande maioria dos brasileiros.
Para se ter uma ideia, os concursos de beleza envolvendo o segmento plus size, por exemplo, surgem como uma forma de representatividade e desconstrução de padrões irreais de beleza. A sétima edição do Miss Minas Gerais Plus Size, em 15 de outubro, no Minas Shopping, combate o estigma de que mulheres bonitas são sempre magras e altas. O Miss Minas Gerais surgiu de uma demanda de quebra de padrões entre as próprias modelos plus size, pois, a partir do momento em que corpos plus co- meçaram a ocupar locais onde não seriam tradicionalmente aceitos, a busca por concursos de beleza, até então apenas para magras, cresceu.
As 20 participantes, representantes de diversas cidades mineiras, ganham força com o apoio dos familiares e entre elas mesmas para praticar o empoderamento e o amor-próprio, entendendo que o problema não está na balança, mas na estrutura dominante. Novamente, é preciso diferenciar o conceito de balança com as definições de um corpo saudável. O peso não deve ser o único parâmetro para se avaliar a saúde de alguém; afinal, uma pessoa pode ser magra e não ser saudável.
Portanto, é preciso manter hábitos saudáveis, como a prática de atividade física e uma dieta equilibrada, assim também como é preciso erradicar a gordofobia, comportamento intrínseco e institucionalizado, isto é, um verdadeiro sobrepeso à alma.
*Érica Dante é Idealizadora do concurso Miss Minas Gerais Plus Size
Publicada originalmente no jornal Estado de Minas
Foto: Reprodução Instagram
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