Reflexão sobre o etarismo

Reflexão sobre o etarismo
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Em um mundo onde todo mundo tem tanta certeza sobre tudo, eu tenho dúvidas…

Por Cleber Siqueira

Até alguns meses atrás, algumas palavras que hoje descrevem determinados tipos de preconceito, eram bem desconhecidas da maior parte da população.

Graças a perseverança de grupos, pessoas e portais como o Viver Sem Preconceitos, essas palavras começaram a se popularizar e o diálogo se tornou mais fácil, afinal muita gente hoje sabe o significado de capacitismo, aporofobia, misoginia, transfobia e a que vamos abordar aqui, etarismo.

Mas antes de entrarmos no assunto, quero lembrar que a diferença do trabalho realizado por grupos, instituições, associações, indivíduos e o do Portal Viver Sem Preconceitos é a de que, enquanto cada um deles atua na defesa de uma causa específica, o VSP, há um ano e meio, busca dar visibilidade a todas as causas e, por consequência, apoiar todos aqueles que individualmente ou em grupos apoiam e lutam pela diversidade.

O etarismo é um tipo de preconceito que temos batido com constância. Recentemente, essa forma de discriminação foi simplificada pela nomenclatura 50+. Empresas, dentro de suas políticas institucionais de diversidade e inclusão, adotaram o termo. A mídia adotou, a sociedade acompanhou. A iniciativa não foi ruim, afinal mostra uma preocupação com o tema. Porém, assusta, pois sem perceber cria um novo fantasma. Funcionários com 40 anos de idade já começam a se sentir constrangidos ou pressionados no ambiente de trabalho em virtude da idade. E isso acontece. Acontece, mas seja 40+ ou 50+, é inadmissível!

É inadmissível, pois nada justifica. Na mesma proporção que não se justifica um ato racista, homofóbico, xenofóbico, aporofóbico, de capacitismo ou qualquer outro. E é sim, na mesma proporção, porque a dor de quem sente uma discriminação é pessoal, somente ela é quem sente. E por mais que o preconceito atinja a família e o convívio social e profissional da pessoa, a dor é dela. Não é sua, nem minha nem de ninguém mais, então a intensidade da dor tem de ser respeitada.

Imagine uma pessoa que fez faculdade, pós, doutorado, pós-doutorado e aos 30 anos se consolidou na empresa. Hoje aos 50, seu valor é questionável? Claro que não; ela está no auge da carreira.

Estudar e executar seus conhecimentos por mais de 20 anos em uma ou mais empresas, não é sinal de senilidade, é experiência produtiva. Muito provavelmente, de liderança! E é ai que entra a minha preocupação, o carimbo 50+. Querendo ajudar, não podemos estar criando um estigma?

Da mesma forma que empresas com boa-fé como Johnson&Johnson e o Boticário, por exemplo, criaram programas especiais voltados à uma população madura, ou então, como a Maturi, instituição que gera oportunidades às pessoas mais maduras ao incentivar o diálogo intergeracional, não existe também a possibilidade de personagens no uso da má-fé colocarem o “carimbo” como o ponto de referência? “Validando” assim, a “idade avançada”?

Importante dizer que o termo 50+ já está consolidado. Sobre ele não há muito mais o que fazer. A não ser -se assim for o caso- utilizar a experiência como ponto de partida para criação de novas designações.

Quero deixar claro que não sou contra a nomenclatura. Tudo isso é apenas uma breve reflexão sobre uma terminologia que há algum tempo tem me incomodado. Mas posso estar errado! Afinal, como sempre faço questão de afirmar “não sou um especialista em preconceitos, sou o cara que abre as portas para que os especialistas deem sua opinião“.

Em um mundo onde todo mundo tem tanta certeza sobre tudo, eu tenho dúvidas… e eu, um 50+, quero aprender!

Foto: Andrea Piacquadio/Pexels

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Cleber Siqueira

Cleber Siqueira

Jornalista, é autor do livro "Fernando, o menino sem dedos". Fundador e editor do Portal Viver Sem Preconceitos, tem pós-graduação em Sociopsicologia. Sua monografia, intitulada "Homossexualidade, o amor às chamas: um breve ensaio sobre o preconceito", faz uma análise entre a literatura específica e a vida real da população homossexual no início dos anos 2000.

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