Se você nunca foi alvo do preconceito etário, talvez um dia o será

Se você nunca foi alvo do preconceito etário, talvez um dia o será
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‘Quantos anos tenho? Não importa se faço vinte, quarenta ou sessenta! O que importa é a idade que sinto’, disse José Saramago. Basta de etarismo!

Por Francisco Iglesias

“Eu vi um menino correndo
Eu vi o tempo
Brincando ao redor do caminho
Daquele menino” …

“Eu vi muitos cabelos brancos
Na fonte do artista
O tempo não pára e no entanto
Ele nunca envelhece”…

Viva Caetano Veloso!!! Oitenta anos celebrados em sete de agosto. Que venham muitos e muitos anos mais.

A arte tem o papel fundamental de provocar debates e promover mudanças culturais. Os artistas podem ser grandes aliados na luta contra o preconceito etário. Fernanda Montenegro tem 92 anos, é atuante e requisitada para produções diversas. Por outro lado, pessoas com a metade da idade dela são consideradas velhas por muitas empresas. O ambiente corporativo é onde mais se escuta falar em “diversidade” e “inclusão”, mas esquece-se que idade também é diversidade.

Diversidade significa representar parcela da sociedade e a chave é o pertencimento. O sentimento de pertencimento mostra que você faz parte da comunidade e faz com que você sinta que pode ser você mesmo. O nosso país vai se tornando cada vez mais grisalho, mas o desrespeito contra a pessoa idosa ainda é um grande problema a ser resolvido, não sem a cooperação de todos. A sociedade brasileira precisa avançar nesse debate para desencadear um processo de reeducação social. Todos envelhecemos, todos nós, sem exceção. Não temos escolha, não há como parar o tempo.

“Não importa se faço vinte, quarenta ou sessenta! O que importa é a idade que sinto”, expressou José Saramago. A sociedade precisa se conscientizar disso e lutar contra o etarismo. Uma grande dica para quem quer se aprofundar nesse assunto é a leitura do livro, Etarismo, um novo nome para um velho preconceito, de Fran Winandy. Segundo essa autora, se você nunca foi alvo do preconceito etário, possivelmente um dia o será, já que, segundo dados da OMS (Organização Mundial da Saúde), um a cada dois idosos no mundo é discriminado.

Assistir Mick Jagger aos 79 anos, barriga zero e voz potente, arrastando multidões de todas as idades ao cantar Satisfation é um dos melhores exemplos de que a criatividade não tem idade, não morre e não pára. Pena que o mundo corporativo insiste em rotular pessoas e restringir profissionais por conta da idade. Está mais do que na hora de pararmos de julgar o potencial das pessoas com base na idade delas, pois todas as diversidades juntas são maiores e melhores.

RIP Jô Soares, 5 de agosto de 2022: “Eu não tenho medo da morte, eu tenho medo – sempre tive,  aliás – é de ficar improdutivo. Agora de morrer? Eu já vivi 82 anos, só espero morrer assim… Acabou, gastou, apagou o ‘Gaslight’” (programa Provoca, da TV Cultura, com Marcelo Tas, em março de 2020).

Publicado originalmente no jornal Estado de Minas
Foto: Caetano Veloso/Reprodução Instagram

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Redação

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