O “vírus chinês” e a crescente onda de xenofobia contra asiáticos

Mulheres asiáticas foram as principais vítimas em massacre
No dia 16 de março oito pessoas foram assassinadas por um atirador, em Atlanta, no estado da Georgia, EUA. Seis eram de origem asiática, sendo duas chinesas e quatro sul-coreanas.
O crime, apesar de ter ocorrido nos Estados Unidos, escancara um preconceito que tem crescido em todo mundo: a discriminação contra asiáticos como punição pela criação do coronavirus.
Robert Aaron Long, um jovem branco, de 21 anos, afirmou ser viciado em sexo e atribuiu o massacre ao desejo de acabar com a tentação, o que não impediu que inúmeras manifestações surgissem, tanto locais como em diversos outros países, com o movimento #Stopasianhate (pare com o ódio contra asiáticos, em tradução livre).
No Brasil, não podemos esquecer das “brincadeiras” do ex-ministro Abraham Weintraub, que em abril de 2020 usou suas redes sociais para ironizar a China utilizando a maneira errada de falar do personagem Cebolinha, da Turma da Monica. Isso, poucas semanas após o Brasil quase encarar uma crise diplomática com seu maior parceiro comercial em decorrência de acusações feitas por Eduardo Bolsonaro.

Foto: reprodução Twitter
Em recente entrevista à revista Marie Claire, a atriz Ana Hikari, filha de pai negro e mãe descendente de japoneses, disse que o preconceito contra asiáticos sempre existiu, mas com a pandemia a situação se agravou.
“A pandemia expôs uma violência que já existia. Os Estados Unidos têm história de opressão no leste asiático, com históricos de guerra com violência maciça, principalmente contra mulheres. A pessoa pode não concordar com os discursos deles, mas reproduzir essas ‘piadinhas’ é colocar mais uma moeda pra alimentar um sistema cujo o resultado vimos nos Estados Unidos: seis mulheres asiáticas mortas a tiros por um cara branco. Se hoje essa conta está começado a bater na porta é porque as pessoas não se questionam e acham esses discursos inofensivos”, disse a atriz.
Ana lembrou ainda de uma situação vivida por ela no carnaval do ano passado, pouco antes do início da pandemia chegar ao Brasil, quando foi abordada por um homem que a atacou: “Eu estava curtindo e um cara chegou mexendo comigo. ‘Sai com esse coronavírus daqui’, falou. Ele me reduziu a um vírus. Fez uma associação esdrúxula de uma doença com um grupo étnico, e falou o que quis”, conta.
O coronavirus já chegou a todos os continentes e os casos de xenofobia em virtude da doença só aumentam. E mesmo com o máximo de conhecimento que se procura disseminar sobre a doença, ainda há quem persista em associar a Covid-19 a uma nacionalidade. Ataques xenofóbicos são registrados inúmeros países, inclusive no Vietnã e em Sumatra. Na Europa, asiáticos sofreram discriminação, entre outros países, na Alemanha, Inglaterra e Italia. Na França, as agressões desencadearam o protesto sob a hashtag #JeNeSuisPasUnVirus (eu não sou um vírus, em francês).
São pessoas se defendendo de pessoas que atacam. E nenhuma delas é o vírus. Mas pelo que parece, algumas estão tentando se tornar tão virulentas quanto o coronavirus… e não são as que se defendem.
Redação: Viver Sem Preconceitos, com Marie Claire
Foto em destaque: reprodução livre/Internet