O preconceito contra a inteligência
Mesmo que seja verdade que vivemos um momento em que dancinhas, bizarrices e besteiróis ocupam as telas de smartphones e computadores em detrimento de discussões que vão além da trivialidade, é legítimo dizer que vivemos um período de preconceito contra inteligência?
Por Ricardo Soares
É certo que muitos de nós temos preconceitos contra a burrice. Mas são muito mais numerosos hoje em dia os que têm preconceito contra a inteligência como podemos notar todos os dias nas redes sociais onde qualquer pessoa que se proponha a discutir algo além da trivialidade e futilidade é taxada como “cabeção” ou condenada a priori com a expressão “lá vem textão“.
Não se trata aqui unicamente de vilanizar as redes sociais e suas tsunamicas estultices. Isso porque o processo de emburrecimento coletivo vem crescendo antes dos Facebooks, Instagrams e Tik Toks da vida. Justiça seja feita. O coletivo mundial vem valorizando toda sorte de besteira bem antes da era de caras, bocas e vacuidade mental que se solidificaram nos dias vigentes.
Não sei porque guardo na memória uma cena televisiva que assisti no fim da década de 80 e que atesta o começo da era da valorização da burrice suprema. Ao vivo o extinto programa TV Mix da TV Gazeta de São Paulo fazia uma transmissão (talvez de um shopping) quando um jovem regurgitou em poucos segundos uma sequência de ditos estúpidos que fariam corar qualquer deputado bolsonarista. O comunicador Tadeu Jungle, assustado, esculachou o jovem dizendo ter pena por ele se orgulhar de tanta estupidez. Mal sabia (ou sabia?) o comunicador que aquilo era apenas prenúncio de uma triste era que estava por vir onde o conhecimento é motivo de bullying e qualquer um que saiba um tiquinho mais é tratado como um nerd alheio à realidade.
Lógico que meu raciocínio acima é fruto de generalização. No entanto todos os dias é enorme a difusão de tolices e vacuidades como se fossem o suprassumo da importância. Não é à toa que as fake news encontraram território fértil no Brasil e no mundo e que, principalmente a juventude, fosse refém de tanta mentira.
Tudo isso fez com que o preconceito contra a inteligência não envergonhe mais os parvos. Estamos, infelizmente, em uma época onde nunca o conhecimento foi tão fácil de adquirir ao mesmo tempo em que a grande maioria foge da sabedoria. Triste paradoxo.
*O texto produzido pelo autor não reflete, necessariamente, a opinião do Portal VSP
Ricardo Soares
Colunista VSP
Jornalista, escritor, roteirista e diretor de TV. Dirigiu 12 documentários e escreveu para a TV Cultura, Rede SescSenac, TV Brasil, GNT e outras. Um dos criadores e primeiro apresentador do programa Metrópolis da TV Cultura. Fez parte da equipe que fundou o Caderno 2 do Estadão. Publicou 10 livros, entre eles, os romances Cinevertigem e Amor de Mãe, além dos infantojuvenis Valentão e O Brasil é feito por nós?
No Instagram fala de livros em 1 minuto no @naredecomsede.
Foto: Mart Production/Pexels
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