Como brincar com a criança autista

Como brincar com a criança autista
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O que são crianças com Transtorno do Espectro Autista (TEA)? Quais atividades podem ser passadas a ela e como elas se desenvolvem. Na coluna de hoje saiba como as brincadeiras são importantes no dia a dia dessas crianças

Por Melaine Machado*

Crianças dentro do Transtorno do Espectro Autista (TEA) são crianças, sendo que seu desenvolvimento e realização de atividades podem ser um pouco distintos, talvez com alimentos específicos e/ou suporte na hora das refeições, por exemplo. Da mesma forma, também vão à escola, viajam e… brincam!

Para a população em geral, as sociedades Americana e Brasileira de Pediatria enfatizam a necessidade de tempo de brincadeira para desenvolver diversos tipos de conexões neurais no cérebro das crianças, tão ocupadas com telas e atividades extracurriculares.

Porém, quando se trata da criança autista diversos estudos apresentam a dificuldade dessas crianças interagirem com seus pares nas brincadeiras. Elas apresentam habilidades sociais limitadas, o que demonstra, muitas vezes, ter mais interesse pelos objetos do que pelas pessoas.

Crianças com TEA geralmente preferem brincar sozinhas, algumas apresentam movimentos repetitivos, como girar as rodinhas de um carro de brinquedo. Esses objetos despertam seu interesse, pois podem ser manipulados por um longo período, ainda que o uso que fazem deles seja restrito e repetitivo. Identificamos que elas precisam aprender a dar função ao brinquedo, pois o brincar funcional para essas crianças costuma ser menos elaborado, menos variado e integrado. Programas de ensino que envolvam o brincar, são estratégias necessárias a fim de que possamos acessar a criança através da sua maneira de brincar e de seus interesses, podendo, assim, aos poucos, ampliar seu repertório, mostrando a ela as funções adequadas de cada objeto ou brinquedo.

Esse comportamento leva, muitas vezes, à falta de novas estimulações vindas dos adultos, pais, cuidadores e responsáveis. Quando o ato de BRINCAR não é significado, nem transformações são incentivadas, isso resulta em um brincar limitado e empobrecido.

O diagnóstico de autismo na criança não pode ser um fator limitante, pois isso prejudica seu desenvolvimento psíquico. Enquanto a criança com desenvolvimento típico desenvolve o brincar naturalmente, esse processo não é tão simples naquelas com autismo. Pode ser um processo longo, com dificuldades que podem levar os pais a se sentirem frustrados, que acabam desacreditando na importância do brincar. Segundo Lev Vigotski, psicólogo russo, um dos pioneiros no estudo do desenvolvimento intelectual infantil, o brincar é fundamental para o desenvolvimento psíquico de qualquer criança.

Através das brincadeiras a criança pode reproduzir as situações vividas, agindo de maneira imaginativa para assimilar suas experiências e desenvolver a criatividade. Na brincadeira, ela encena e dramatiza sua realidade e a ressignifica, o que contribui com o seu desenvolvimento. Brincando, a criança descobre e se inter-relaciona com os seus movimentos, o mundo dos seus sentimentos e os seus pensamentos.

Para brincar, a criança aprende a agir e a dar significado a experiências, sentimentos e emoções. A imaginação é uma atividade psíquica complexa e fundamental na infância. O afeto também está presente na relação entre imaginação e realidade. A imaginação é fundamental para a criatividade e amplia a assimilação das experiências vividas.

Embora as crianças com autismo possam ter mais dificuldade nas interações sociais, isso não as impede de brincar. Na verdade as atividades lúdicas são essenciais para o seu desenvolvimento, assim como para o de qualquer outra, é importante ressaltar que o diagnostico de autismo não faz com que a criança deixe de ser criança, e que não precise ser estimulada como todas as crianças mereçam ser.

– A importância do brincar –

O ato de brincar ajuda no Neurodesenvolvimento das crianças, pois estimula a interação, o desenvolvimento cognitivo e a consciência corporal. É muito importante estimular as crianças com autismo a brincar com outras crianças, de forma lúdica, sem forçá-las. Progressivamente, elas se sentem mais seguras para se relacionar socialmente, desenvolvem habilidades como atenção, concentração, percepção e linguagem. O brincar também favorece o desenvolvimento motor e a noção de espaço, habilidades que devem ser estimuladas desde quando as crianças são pequenas.

– Brincadeiras para as crianças com autismo –

Toda criança é única, e algumas brincadeiras apresentam características próprias que contribuem com o desenvolvimento das delas. Elas devem sempre ser monitoradas por adultos, para protegê-los de algum eventual acidente, engolindo pequenas peças, por exemplo.

Algumas crianças com autismo podem ser hipersensíveis a estímulos visuais, auditivos, olfativos enfim sensoriais o que deve ser considerado no momento de propor uma brincadeira. O importante é que o brincar se torne uma experiência de criação de vínculo e fonte de aprendizagem e diversão!

Brincadeiras que fazem sucesso com as crianças com autismo

  • O brincar deve ser sempre estimulado nas crianças com autismo, pois mesmo que apresentem dificuldades, é pelo brincar que elas aprendem e se desenvolvem, nas terapias e na educação infantil o brincar é utilizado como uma excelente ferramenta para estimular o desenvolvimento global delas.
  • Quebra cabeça — o quebra cabeça desenvolve habilidades como atenção e lógica. A dica é escolher um tema de interesse da criança.
  • Brinquedo de borracha e pelúcia — brinquedos macios são ótimos para as crianças, pois eles não machucam e elas costumam se agradar.
  • Jogo da memória — contribui com o desenvolvimento da atenção, memória e raciocínio, noção espacial, além de incentivar a interação e a lidar com a frustração.
  • Desenho e pintura — desenhar e pintar permite a expressão de sentimentos, o que é muito importante, principalmente para as crianças com autismo. Além disso, estimula a criatividade, ajuda a diminuir a ansiedade e desenvolve habilidades motoras.
  • Jogos de imitação — embora as crianças com autismo tenham mais dificuldade com a imitação, este é um mecanismo importante na interação social e deve ser estimulado.
  • Blocos de montar — além de divertidos, estimulam a atenção, concentração, coordenação motora e a autoconfiança.
  • Faz de conta — brincadeiras de faz de conta desenvolvem a capacidade de simbolização, favorecem a criatividade, concentração e imaginação.

Toda criança merecer ser e crescer por meio do brincar.

*O texto produzido pelo autor não reflete, necessariamente, a opinião do Portal VSP

Melaine Machado
Colunista VSP

Profissional de Educação Física, psicomotricista clínica, especialista em desenvolvimento infantil. Criadora dos Projetos “Brincar Sensorial ” e “SOS mães atípicas” (a importância de cuidar de quem cuida). Desde 1996 tem proporcionado a inclusão social das crianças por meio do BRINCAR, que são atividades lúdicas que auxiliam no desenvolvimento. Nas redes sociais aborda os temas em @melaine_motricidade.

Foto: Artem Podrez/Pexels

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