Etarismo na comunidade LGBTI+

Etarismo na comunidade LGBTI+
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Alvo frequente de discriminação e preconceito, a comunidade LGBTI+ é também constantemente celebrada por sua diversidade e resiliência. Mas o que acontece quando as pessoas da comunidade atingem a maturidade, quando passam a ser consideradas idosas?

Por Nelly Winter*

A comunidade LGBTI+ é frequentemente celebrada por sua diversidade e resiliência, mas, como qualquer grupo social, não está imune a dinâmicas internas de exclusão e discriminação. Um desses fenômenos, ainda pouco discutido, é o etarismo -a discriminação baseada na idade-, que afeta especialmente pessoas mais velhas dentro da comunidade. Essa forma de preconceito não apenas marginaliza indivíduos, mas também tem impactos profundos na saúde mental, agravando desafios já enfrentados por essa população.

O etarismo se manifesta de diversas maneiras na comunidade LGBTI+. Em espaços como bares, festas e aplicativos de relacionamento, é comum observar a valorização excessiva da juventude, associada a padrões de beleza que excluem pessoas mais velhas. Muitos idosos LGBTI+ relatam sentir-se invisíveis ou descartados, como se sua vivência e contribuição para a luta por direitos fossem irrelevantes.

Além disso, a falta de representatividade de pessoas mais velhas em campanhas, eventos e mídias direcionadas ao público LGBTI+ reforça a ideia de que a comunidade é um espaço predominantemente jovem. Essa exclusão simbólica pode levar ao isolamento social e à sensação de não pertencimento, mesmo dentro de um grupo que deveria acolher todas as identidades.

O etarismo tem consequências diretas na saúde mental de pessoas LGBTI+ mais velhas. A solidão, já um problema significativo para idosos em geral, é agravada pela rejeição dentro da própria comunidade. Muitos idosos LGBTI+ não têm redes de apoio familiares, seja por terem sido rejeitados em sua juventude ou por terem construído suas vidas longe de ambientes hostis. Quando também são excluídos dos espaços LGBTI+, o sentimento de abandono pode se intensificar.

Estudos mostram que a solidão crônica está associada a um maior risco de depressão, ansiedade e até mesmo declínio cognitivo. Para pessoas LGBTI+, que já enfrentam taxas mais altas de problemas de saúde mental devido ao estresse minoritário — o acúmulo de experiências de discriminação e preconceito —, o etarismo representa uma camada adicional de sofrimento.

Outro aspecto preocupante é a internalização do etarismo. Muitos idosos LGBTI+ começam a acreditar que realmente não têm valor após serem repetidamente ignorados ou rejeitados. Essa internalização pode levar à diminuição da autoestima e à desistência de buscar conexões sociais, perpetuando um ciclo de isolamento e deterioração da saúde mental.

Combater o etarismo na comunidade LGBTI+ exige uma mudança cultural que valorize todas as idades e reconheça a importância das gerações mais velhas. Espaços seguros e inclusivos devem ser criados para acolher pessoas de todas as faixas etárias, promovendo intergeracionalidade e troca de experiências. Campanhas de visibilidade que incluam idosos LGBTI+ também são essenciais para desafiar estereótipos e mostrar que a diversidade não tem idade.

Além disso, é crucial que organizações e profissionais de saúde mental estejam atentos às necessidades específicas dessa população. Terapias e grupos de apoio que abordem questões relacionadas ao envelhecimento e ao etarismo podem ajudar a mitigar os efeitos negativos na saúde mental.

O etarismo é uma forma de discriminação que afeta profundamente a comunidade LGBTI+, especialmente no que diz respeito à saúde mental. Enquanto a luta por direitos e visibilidade continua, é fundamental que a comunidade não reproduza as mesmas estruturas de exclusão que combate. A inclusão de pessoas mais velhas não é apenas uma questão de justiça, mas também uma forma de fortalecer a comunidade como um todo, celebrando a diversidade em todas as suas dimensões. Afinal, envelhecer com dignidade e respeito é um direito de todos, independentemente de quem amamos ou como nos identificamos.

*O texto produzido pelo autor não reflete, necessariamente, a opinião do Portal VSP

Foto: Cottonbro Studio/Pexels

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