Tá Difícil Ser Criança?
Estamos no mês das crianças, mas devemos celebrar ou refletir sobre a forma como a infância vem sendo tratada na atualidade? E se você quer saber se há espaço para as duas questões serem observadas, a resposta é sim!
Por Melaine Machado*
O Dia das Crianças é uma data que desperta alegria e celebração, mas também nos convida a uma reflexão importante: como está sendo a infância nos dias de hoje? Se perguntarmos a uma criança, talvez a resposta seja simples, mas, por trás dos sorrisos e brincadeiras, há uma realidade que precisamos observar com mais atenção. Tá difícil ser criança? A resposta, infelizmente, é sim.
– Excesso de Telas: O Novo Normal? –
A tecnologia tornou-se uma presença constante na vida das crianças. Tablets, celulares e computadores substituíram brincadeiras ao ar livre e interações humanas reais. O uso excessivo de telas afeta o desenvolvimento infantil, interferindo na criatividade, na capacidade de concentração e até na saúde mental. As crianças estão perdendo a conexão com o mundo natural, o brincar livre e o movimento que sempre foram essenciais para um desenvolvimento pleno.
A infância, que deveria ser marcada por correr, cair e levantar, está cada vez mais restrita ao conforto de uma tela brilhante. Esse cenário traz consequências que vão além da falta de movimento: os desafios sociais e emocionais também crescem. Com menos interação presencial, o desenvolvimento da empatia e das habilidades de comunicação é comprometido.
– Falta de Contato com a Natureza: O Impacto na Infância –
Se antes as crianças passavam horas explorando quintais e parques, hoje a natureza parece estar distante de suas realidades. A falta de contato com o verde afeta diretamente o bem-estar infantil. Estudos mostram que brincar ao ar livre melhora o humor, reduz o estresse e estimula a criatividade. Crianças precisam do toque da terra, do som dos pássaros e do cheiro das plantas. Elas precisam se sujar, sentir o vento no rosto e se reconectar com o que é simples e verdadeiro.
O contato com a natureza promove o desenvolvimento sensorial e motor, algo fundamental na primeira infância. Porém, para muitas famílias, a natureza se tornou uma raridade no dia a dia, algo distante, acessível apenas em ocasiões especiais. Esse distanciamento está privando as crianças de experiências fundamentais para seu crescimento.
– Falta de Políticas Públicas: O Estado Ausente –
Outro desafio grave é a ausência de políticas públicas que favoreçam o desenvolvimento infantil. No Brasil, faltam espaços adequados para o brincar, programas de educação infantil que respeitem o tempo e o ritmo das crianças, e políticas que incentivem a convivência familiar e o cuidado com os pequenos. A educação infantil de qualidade ainda é um privilégio de poucos, e a falta de infraestrutura, principalmente em áreas vulneráveis, impede que muitas crianças tenham uma infância digna e plena.
O desenvolvimento infantil deveria ser uma prioridade nacional, mas é deixado de lado em discussões políticas. Investir na infância é investir no futuro, mas a negligência em relação a esse tema resulta em gerações que crescem sem o suporte necessário para florescer.
– Disciplina Positiva e Comunicação Não Violenta: Caminhos de Esperança –
Apesar de todos os desafios, existem caminhos que podemos seguir para cuidar melhor de nossas crianças. A disciplina positiva é uma abordagem que valoriza o respeito, o diálogo e o encorajamento, em vez da punição. Ela oferece às crianças limites claros, mas com amor e compreensão, ajudando-as a desenvolver autocontrole e responsabilidade.
A comunicação não violenta também é essencial para o desenvolvimento emocional saudável. Quando aprendemos a nos comunicar com as crianças de forma empática, sem agressividade, abrimos portas para um relacionamento mais amoroso e respeitoso. Isso cria um ambiente seguro, onde elas podem expressar seus sentimentos e aprender a lidar com as emoções de forma saudável.
– Olhar com Amorosidade e Responsabilidade –
É hora de olharmos para a infância com mais amorosidade e responsabilidade. As crianças não são mini-adultos, nem robôs programados para obedecer. Elas são seres em formação, com suas próprias necessidades, ritmos e desafios. Precisam de adultos presentes, que compreendam a importância do brincar, do movimento, do contato com a natureza e da criação de vínculos afetivos.
Neste Dia das Crianças, que possamos refletir sobre o futuro que estamos oferecendo aos nossos pequenos. Que possamos nos comprometer a construir uma sociedade mais justa e acolhedora para todas as crianças, especialmente na primeira infância, garantindo a elas o direito de ser criança, de brincar, de crescer com saúde e felicidade.
*O texto produzido pelo autor não reflete, necessariamente, a opinião do Portal VSP
Melaine Machado
Colunista VSP
Profissional de Educação Física, psicomotricista clínica, especialista em desenvolvimento infantil. Criadora dos Projetos “Brincar Sensorial ” e “SOS mães atípicas” (a importância de cuidar de quem cuida). Desde 1996 tem proporcionado a inclusão social das crianças por meio do BRINCAR, que são atividades lúdicas que auxiliam no desenvolvimento. Nas redes sociais aborda os temas em @melaine_motricidade.
Foto: Karolina Kaboompics/Pexels
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