Tribunal do Rio tira de Ludmilla o direito à indenização por injúria racial

Tribunal do Rio tira de Ludmilla o direito à indenização por injúria racial
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Para desembargador não houve ofensa e sim, liberdade de expressão

“A fantasia está bonita, a maquiagem… Agora, o cabelo… Hello! Esse cabelo dela está parecendo um bombril, gente…”

Foi com essa frase que a socialite Val Marchiori, trabalhando como comentarista em uma emissora de TV, se dirigiu à Ludmilla, quando a cantora desfilava no Carnaval do Rio de Janeiro, pela escola de samba Salgueiro, em 2016.
O caso foi parar na justiça e, em 2018, a socialite foi condenada a pagar R$ 30 mil. Na ocasião, o juiz entendeu que a liberdade de expressão não é um direito absoluto e que o comentário havia sido maldoso.

Val Marchiori recorreu em 2ª. instância e a 14ª Câmara acolheu o recurso da ré. O voto do relator Francisco de Assis Pessanha Filho, seguido por unanimidade pelos desembargadores, contextualiza a fala de Val e afirma que ela teceu comentários sobre o aplique de Ludmilla, não sobre seu cabelo natural, e que a afirmação da ré se trata de liberdade de expressão, longe de ter cunho racista.

O relator diz ainda que Ludmilla, por ser uma pessoa pública, “se submeteu ao escrutínio social por meio de um desfile de Carnaval transmitido ao mundo inteiro, razão pela qual está sujeita a elogios e opiniões contrárias”.

Cantora Ludmilla
Foto: reprodução Twitter

Aqui, a dúvida deste redator fica com os desembargadores. Por que tiveram tanta competência para interpretar aquilo que não foi falado: a palavra “aplique”, mas não usaram do mesmo raciocínio para interpretar o que foi realmente dito: as palavras “fantasia” e “maquiagem”?

Oras, se a socialite se preocupou em falar em detalhes fantasia e maquiagem, por que não falou “o ‘aplique’ está parecendo um Bombril”?

Para mim está claro que Val Marchiori não falou porque tinha intenção objetiva de falar dos cabelos (e não do aplique) da cantora.

Em nota, a cantora avisa: “Não vou desistir nem é só por mim. Eu tenho visibilidade, tenho provas e ainda assim estou passando por isso. Imagina quem é anônimo? Não posso e não podemos desistir”.

Redação: Viver Sem Preconceitos
Foto em destaque: reprodução Instagram


Cleber Siqueira

Cleber Siqueira

Jornalista, é autor do livro "Fernando, o menino sem dedos". Fundador e editor do Portal Viver Sem Preconceitos, tem pós-graduação em Sociopsicologia. Sua monografia, intitulada "Homossexualidade, o amor às chamas: um breve ensaio sobre o preconceito", faz uma análise entre a literatura específica e a vida real da população homossexual no início dos anos 2000.

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