Educação inclusiva exige mais que boa intenção

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Informação, preparo e coragem são essenciais para vencer o preconceito nas escolas

Por Ciça Cordeiro*

Cadeirante não tem condição de aprender nada.

Essa frase, absurda e cruel, não foi dita por uma pessoa ignorante sobre o tema da inclusão escolar. Foi dita por um secretário de Educação, em exercício, no município de Barueri (SP). Alguém que tinha a responsabilidade institucional de promover o direito à educação para todas as crianças, inclusive as com deficiência.

A fala de Celso Furlan – que gerou revolta, indignação e sua exoneração – não é um caso isolado. É só mais um reflexo do capacitismo estrutural que ainda permeia a sociedade, inclusive (e infelizmente) nas estruturas de poder.

Não se trata apenas de opinião infeliz. Trata-se de violação de direitos, desprezo à dignidade de famílias inteiras e uma completa negação da Lei Brasileira de Inclusão (LBI), da Constituição e dos tratados internacionais dos quais o Brasil é signatário.

-Educação inclusiva é um direito – não uma concessão-

Pessoas com deficiência têm direito à educação em escolas regulares, com os apoios e adaptações necessários para sua aprendizagem e participação. Esse direito não está em debate. Está na lei.

Mas o que ainda falta, e muito, é formação adequada, investimento em acessibilidade, valorização de profissionais da educação e combate firme ao preconceito disfarçado de “preocupação com a realidade”.

O capítulo IV da LBI fala sobre o tema em seu artigo 27 – “A educação constitui direito da pessoa com deficiência, assegurados sistema educacional inclusivo em todos os níveis e aprendizado ao longo de toda a vida, de forma a alcançar o máximo desenvolvimento possível de seus talentos e habilidades físicas, sensoriais, intelectuais e sociais, segundo suas características, interesses e necessidades de aprendizagem. Parágrafo único. É dever do Estado, da família, da comunidade escolar e da sociedade assegurar educação de qualidade à pessoa com deficiência, colocando-a a salvo de toda forma de violência, negligência e discriminação.”

Quando alguém em posição de liderança — especialmente na educação — diz que mães de crianças com deficiência querem “se livrar dos filhos” ou que “cadeirantes não aprendem”, o impacto vai além da fala ofensiva. Esse discurso:

• legitima a exclusão;
• desestimula escolas e professores a se engajarem com a inclusão;
• alimenta estigmas que já são dolorosos e injustos demais para serem carregados por tantas famílias.

Infelizmente, o preconceito institucionalizado ainda está presente em muitos espaços que deveriam ser exemplos de acolhimento e equidade.

-Informação é o antídoto contra o preconceito-

Sempre que dou treinamentos e formações sobre como atender pessoas com deficiência, ouço uma frase recorrente dos participantes: “Por que não aprendemos isso na escola?”

Essa pergunta é reveladora. Falta formação, falta sensibilização, falta espaço para discutir inclusão como parte da formação cidadã — desde a infância até a capacitação de gestores públicos.

O capacitismo só se sustenta onde há ignorância. E o caminho para desconstruí-lo é a informação. É a escuta. É o contato humano com realidades diversas.

Não é possível que gestores públicos possam ocupar cadeiras em secretarias sem conhecimento mínimo sobre os direitos humanos, sobre diversidade, sobre o que diz a legislação. O caso de Barueri é um alerta: a população precisa ficar atenta, cobrar posicionamento, acompanhar políticas públicas, exigir preparo e responsabilidade.

A escola é, ou deveria ser, o primeiro espaço de inclusão real. Mas isso só será possível se a inclusão for compreendida como valor inegociável — não como “peso”, “custo” ou “problema”.

-A verdadeira revolução na educação começa pelo respeito-

Incluir não é fazer favor — é garantir que todas as pessoas, inclusive aquelas com deficiência severa, múltipla ou invisível, tenham acesso ao aprendizado, à convivência e ao exercício pleno da cidadania.

Cada criança tem seu tempo, seu modo de aprender e necessidades próprias. Mas todas carregam saberes e vivências que também ensinam — à escola, aos colegas e à sociedade.

É preciso romper com o capacitismo institucionalizado. Formar para a diversidade é preparar cidadãos mais empáticos, conscientes e respeitosos. O preconceito se aprende e também pode ser desaprendido.

Crianças com deficiência não são “problemas” nem “pesos”. São sujeitos de direitos, com trajetórias únicas e potenciais reais. E quando a escola aprende a incluir, ela também se transforma.

Porque o verdadeiro avanço da educação não está apenas nos índices, mas na forma como escolhemos acolher, ouvir e caminhar juntos.

Que tipo de escola queremos construir? Que tipo de lideranças estamos dispostos a fortalecer e eleger?

A inclusão começa na consciência — e a consciência se forma com informação, compromisso e coragem.

*O texto produzido pelo autor não reflete, necessariamente, a opinião do Portal VSP

Foto: Reprodução Internet

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