A arte de existir

Se existir é uma arte, resistir é o nosso maior espetáculo
Por Nelly Winter*
Mais de dois milhões de corpos dançaram ao som de Lady Gaga no Rio de Janeiro no último sábado. Dois milhões de vozes gritaram por liberdade, respeito e mais amor. Após assistir esse espetáculo, me deparei com um sentimento único e avassalador. Dois milhões! Este número não é apenas um recorde mundial, é uma resposta coletiva e viva da diversidade, que somos potentes, nós existimos e resistimos, somos milhões. O coro com músicas que também falam sobre nós, sobre nossas dores e batalhas não foi apenas pela emoção de um show de uma grande artista, mas uma questão política.
Além de comprovar, mais uma vez, o quanto é viável e rentável se investir em mais cultura e cidadania – transformando um espaço público em uma vitrine para o mundo, o mesmo público presente reverte também milhões em impostos para a prefeitura da cidade do Rio de Janeiro, por exemplo. No entanto, além de enfatizar essa relevante informação econômica, quero reforçar a sensação inenarrável que é ver a cultura mostrar sua força. A arte enquanto expressão e resistência liberta. Eu ser a primeira artista Drag Queen escritora a publicar em Mato Grosso, lugar onde nossos corpos são alvo constante, nunca me deixou esquecer e ter esperança de que um dia possamos viver dias melhores – e, para isso, precisamos mostrar nossa existência, resistir não é uma escolha, é um ato de coragem, mas principalmente nossa única alternativa. Talvez, a maior de todas expressões que possamos vivenciar.
Mato Grosso é um dos lugares onde mais se tem mortes violentas contra vítimas LGBTQIAPN+, ainda temos muito que caminhar para continuarmos sobrevivendo, politicas publicas ainda são insuficientes para acolhimento da comunidade, mas além disso, para nos proteger da morte. Nem sempre morte esta que vem de ataques físicos, mas na exclusão do mercado de trabalho, no preconceito que destrói a qualidade de vida, na autoestima de quem quer que seja – e que vive na pele “ser quem é”.
Esta semana tive conhecimento da nova data, por exemplo, da Mostra Soul 2025 – que indico para quem ainda não tiver conhecimento, buscar sobre na rede social (pelo Instagram @mostrasoulsnp), que este ano vai acontecer em Sinop, norte de Mato Grosso e, onde essa realidade de preconceito bastante é árdua. A mostra tem três dias de programação e, em sua grade, até um concurso audiovisual com a temática LGBTQIAPN+ com as inscrições abertas. Quem participar, não precisa residir em Sinop, mas residir no território mato-grossense. Além do Concurso Gongo, haverá feira com diversos empreendedores da diversidade, oficinas e batalha do conhecimento. Vale a pena acompanhar, eventos como este, em pequenas ou proporções maiores – são parte da manutenção de quem somos para não apenas sermos vistos, mas parte da manutenção das políticas públicas, conscientização da sociedade, mas mais do que nunca, para que não nos sintamos sozinhos.
*O texto produzido pelo autor não reflete, necessariamente, a opinião do Portal VSP

Nelly Winter
Colunista VSP

Cuiabana de chapa, artista, escritora, publicitária, poetisa, palestrante, mestre de cerimônias e cerimonialista, questionadora de tabus, voluntária em ONG’s, apaixonada por pessoas, fascinada por divas do pop, amante de livros e DRAG QUEEN. O podcast DragPod é apresentado por ela. Nelly Winter foi criada por Thon Silva há 20 anos. E o que era hobby no início, hoje tem o objetivo debater os tabus sociais, com a finalidade de desmistificar rótulos impostos por uma sociedade machista.
Foto: Agência Brasil – EBC

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