A luta pela inclusão é uma luta de classes

A luta pela inclusão é uma luta de classes
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Num momento em que o mundo vê o desdém do presidente estadunidense pela diversidade, vale lembrar que “a história de toda a sociedade até hoje é uma história de luta de classes”

Por Fabiana Conceição*

Como disse Karl Marx, “a história de toda a sociedade até hoje é uma história de luta de classes”. E a agenda de diversidade, equidade e inclusão faz parte dessa luta. Nos últimos tempos, observamos um esfriamento preocupante e, pior ainda, retrocessos nas ações e estratégias voltadas para essa pauta. Ideologias políticas e conservadoras, somadas ao negacionismo promovido por governos em todo o mundo, incentivam atitudes que desmontam avanços duramente conquistados.

O CEO da Disney, Bob Iger, recentemente anunciou que a empresa irá redirecionar seu foco de volta ao entretenimento, distanciando-se das agendas políticas e sociais. Essa decisão sinaliza um reflexo do momento global de retrocessos em iniciativas voltadas à diversidade e inclusão. Paralelamente, o presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump, prometeu acabar com políticas de diversidade, igualdade e inclusão nas contratações do governo, consolidando uma narrativa de desmonte que reverbera em diferentes esferas da sociedade.

No início do mês, a decisão da Meta de não remover proativamente publicações discriminatórias contra pessoas LGBTQIA+ e imigrantes trouxe mais um exemplo de como escolhas não são neutras. Essa decisão reflete um contexto mais amplo de retrocessos sociais e políticos, que estão diretamente conectados às dinâmicas históricas de exclusão e resistência. Ela abre espaço para discursos de ódio, alimenta preconceitos e provoca uma ocorrência em cadeia: menos investimentos, abandono de iniciativas e uma negligência que impacta a vida de milhões de pessoas.

Embora os retrocessos sejam desanimadores e dolorosos, nós, pessoas de grupos sub-representados, carregamos em nossa trajetória a forja da resistência. A história do Brasil é marcada por enfrentamentos profundos, onde lutar pela igualdade de direitos sempre significou desafiar as estruturas que perpetuam a exclusão. Diversidade e inclusão jamais foram – e nunca serão – confortáveis para sistemas que prosperam às custas da desigualdade.

Essa trajetória é sustentada por debates históricos e pela resistência contínua. Desde os movimentos abolicionistas, que enfrentaram a escravidão, até as lutas contemporâneas contra as formas modernas de exclusão como o racismo estrutural, a homofobia e o capacitismo, a caminhada tem sido marcada por avanços e retrocessos. Conquistas como as cotas raciais, os direitos LGBTQIA+ e as leis de acessibilidade representam capítulos significativos dessa luta, embora constantemente ameaçados. Esses avanços não se limitam a marcos legais ou conquistas simbólicas – eles refletem batalhas reais, travadas por pessoas que desafiaram estruturas profundamente enraizadas de exclusão e desigualdade.

Não há conquista que passe por resistências – sejam elas políticas, culturais ou sociais. E as empresas, como parte da sociedade, não estão livres dessa dinâmica. Elas desempenham um papel crucial, mas, ao priorizarem resultados imediatos ou evitarem temas desafiadores, acabam negligenciando o potencial estratégico e humano que a diversidade, equidade e inclusão oferecem para transformar realidades e contribuir para o desenvolvimento sustentável.

Para nós que temos uma causa de sobrevivência, precisamos continuar existindo, persistindo e resistindo. Talvez os resultados demorem mais, os investimentos sejam limitados e o apoio esperado não se concretize. Mas o trabalho continua – fortalecido pela certeza de que essa é uma luta coletiva, comprometida com a construção de uma sociedade onde todas as pessoas possam ocupar seus espaços com dignidade e respeito.

Que não percamos de vista o que nos trouxe até aqui. A luta pela diversidade e inclusão é, acima de tudo, uma luta pela dignidade humana. E como toda luta, ela exige persistência, coragem e a crença de que o futuro pode ser mais justo, mesmo quando o presente parece conspirar contra. A luta continua – e vale a pena.

*O texto produzido pelo autor não reflete, necessariamente, a opinião do Portal VSP

Foto: Vecteezy

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